sábado, 8 de janeiro de 2011

Capítulo 3 – Tenho medo, muito medo

Irei seguir a sugestão da minha Ana Carolina de escrever a fic na perspectiva de uma personagem, espero que gostem :)
Não se preocupem, deixarei sempre bem claro em que perspectiva é que se está, para uma fácil interpretação.

...........................................................................................................................

Perspectiva da Fi:

O meu telemóvel não parava de tocar e eu não sabia o que fazer... Atendo ou não atendo? Se atender vai dar a ideia de que não quero fazer isto, mas quero e muito, mas é melhor atender, pode ser alguém importante... Sim, não sei bem que horas são, mas quando estava a preparar alguma coisa para o Chico comer, lembro-me que eram 23h40, por isso, já deve ser 0h10. Que estranho, estarem a ligar a esta hora! Deve ser mesmo importante, é melhor atender. A muito esforço afastei-me do corpo do Chico, sentia-me fraca, sem forças.

Chico – Estás bem? Que se passa? – perguntou-me preocupado
Fi – Estou com um mau pressentimento – o meu telemóvel tinha-se calado, então corri até ele para ver quem é que me tinha ligado
Chico – Mau pressentimento? – perguntou confuso
Fi – Sim, não te sei explicar, mas sei que algo se passa e tenho que descobrir o quê – digo mexendo no telemóvel – Ah, foi a Matie que me ligou.
Chico – Deve estar preocupada, não disseste que tinhas que lhe ligar? – diz pondo-se de pé
Fi – Sim, é melhor ligar-lhe! Estou mesmo assustada...
Chico – Não estejas, estou aqui para tudo – diz pondo os seus braços em torno da minha cintura e enterrando a cabeça no pescoço, roubando-me beijinhos suaves
Fi – Obrigada, meu amor. Amo-te muito – confessei-lhe
Matie – Fi! Ainda bem que atendeste, não sabia a quem ligar – diz entre soluços
Fi – Tem calma, bebé! Respira! – digo preocupada
Matie – Não consigo... Vem depressa!
Fi – Para onde? O que é que se passa? Estou a ficar mesmo preocupada!
Matie – Foi o Bernas...
Fi – O que é que se passa? – perguntei preocupada por entre lágrimas. Eu sabia que algo se passava, sentia-o
Matie – Foi atropelado...

Após tais palavras não consegui ouvir mais nada a não ser as lágrimas que devoravam Matie e que começavam a devorar-me. Cai nos braços do Chico, já não tinha forças para mais nada, aquela noticia tinha-me deixado completamente devastada e a minha cabeça invadida por memórias antigas partilhadas com ele. Comecei a ver tudo a passar à frente dos meus olhos, desde o dia em que o conheci, até ao dia de hoje. Comecei a lembrar-me de todas as discussões, de todas as vezes em que fui bruta sem razão. Agora, só me conseguia lembrar de todos os momentos maus, de todos os erros que cometi e culpava-me por isso, por não ter aproveitado mais o tempo em que estive com ele e lamentava o facto de não o ter apoiado mais, de não o ter ajudado mais, lamentava-me de tudo, afinal ele era o meu melhor amigo e eu não o podia perder. Comecei a sentir umas mãos frias no meu rosto, eram as de Chico. Ele estava a preocupado, estava a tentar falar comigo, mas eu não o conseguia ouvir. A minha mente encontrava-se trancada e o meu corpo imóvel. Estava estática, o meu corpo não obedecia ao que o meu cérebro ordenava. Senti algo a abanar-me, algo estava a tentar trazer-me de volta à Terra, mas eu permanecia inerte, até que de repente senti algo, algo que me fez despertar. Eram lágrimas, não minhas, mas de outra pessoa. Senti a pessoa que chorava encostada a mim a pedir-me para voltar, para lhe dar um sinal de que estava bem. Essa pessoa era Chico. A muito esforço, tentei voltar a mim e deixar aqueles pensamentos de lado, mas não o fiz por mim, fi-lo pelo Chico.

Chico – Peço-te, volta! Diz alguma coisa, não aguento mais ver-te assim – implorou-me
Fi – Desculpa... – Ainda estava sentada no chão e a balouçar-me de um lado para o outro
Chico – Não tens que pedir desculpa! Estava tão preocupado! – diz abraçando-me
Fi – Desculpa, mas não sei o que aconteceu... – disse meio confusa
Chico – Entraste em estado choque, é completamente normal – diz tentado reconfortar-me
Fi – Onde é que ele está?
Chico – Está na CUF das Descobertas, a tua mãe já está lá, não te preocupes.
Fi – Tenho que ir para lá! – disse tentado levantar-me
Chico – Nem penses, não estás em condições. Passamos por lá amanhã.
Fi – Não! Eu quero ir hoje! – disse irritada
Chico – Filipa, não estás em condições para ir para um hospital!
Fi – Não te perguntei se estava ou não! Eu vou, é o meu melhor amigo, percebes? – disse levantando-me.
Chico – Pronto, tem calma. Eu vou chamar um táxi
Fi – Está bem. A Matie está lá?
Chico – Sim, ela estava com ele...
Fi – Coitadinha! Enquanto o táxi não vem, vou preparar qualquer coisa para ela comer...

O táxi não demorou muito e em menos de 25 minutos chegamos ao parque das nações, mais propriamente à CUF. Eu fui o caminho todo a chorar e a lamentar-me de tudo o que tinha feito de mal, tudo o que estragara por momentos a nossa amizade. Jurei a mim mesma que não me perdoaria se ele morresse e eu não tivesse a oportunidade de me despedir dele ou simplesmente dizer-lhe que o amava. Assim que chegamos, saí disparada do táxi, já tinha dado o dinheiro ao Chico, porque eu sabia que assim que chegássemos eu não iria ficar lá dentro à espera que se despachassem. Saí a correr da viatura e dirigi-me o mais depressa possível ao interior das instalações do hospital.

Fi – Boa noite, deu entrada aqui um rapaz chamado Bernardo de Almeida? – perguntei aflita
Senhora do balcão – Sim – diz olhando para o ecrã do computador - é familiar?
Fi – Sim, sou. A minha mãe, Maria Bettencourt é médica aqui, ela está a acompanhá-lo. Poderia dizer-me em que piso estão?
Senhora do balcão – Sim, a sua mãe disse-me que a menina chegaria a qualquer momento. Ela pediu-me que lhe entregasse os objectos pessoais do menino Bernardo e que lhe informasse que estão no Piso 3. Quando chegar lá acima pergunte à minha colega em que ala é que o seu amigo se encontra – diz dando-me os objectos do Bernas. Ao agarrar neles o meu rosto foi invadido novamente por lágrimas. Enquanto esta ainda me dava os objectos, senti a presença de alguém atrás de mim, era o Chico que acabara de chegar.
Fi – Muito obrigada – Agarrei na mão de Chico e comecei a correr até ao elevador
Chico – Tem calma, meu amor. Vai correr tudo bem, garanto-te!
Fi – Tenho medo, muito medo! E se lhe acontece alguma coisa?
Chico – Não penses agora nisso – deu-me um beijo nos lábios. A porta do elevador abriu-se e dirigimo-nos apressadamente para o balcão.

Fi – Boa noite.
Senhora do balcão – Boa noite.
Fi – Eu... – não terminei a frase porque fui interrompida pela senhora que se encontrava atrás do balcão
Senhora do balcão – Não é preciso dizer nada, a minha colega já me informou e a sua mãe também. Vá por aquele corredor – apontou para o corredor que se encontrava à minha direita – até chegar a umas portas com umas janelas redondas, entre e vire logo à direita. A Sua mãe já está aí à sua espera.
Fi – Muito obrigada! – disse começando a correr em direcção ao corredor
Senhora do balcão – De nada, mantenha a calma e tenha fé – gritou bem alto para que eu a ouvisse. Aquelas palavras aqueceram-me o coração e aumentaram a réstia de esperança que ainda havia dentro de mim. Seguia as indicações à risca e como me havia prometido, lá estava a minha mãe no fundo do corredor.

Maria – Filha!
Fi – Mãe – disse abraçando-a – como é que ele está? Diga-me!
Maria – Vais ter que ter calma, minha querida. Promete-me que és forte! – Pediu-me dando-me um beijo na nuca
Fi – Não consigo prometer-lhe isso, desculpe! – disse soltando algumas lágrimas
Maria – Ao menos promete-me que vais ter calma – pediu-me olhando agora nos meus olhos
Fi – Por favor, mãe, diga-me como é que ele está, não aguento mais!
Maria – Ele ainda está em observação e o prognóstico ainda é reservado...
Fi – Acha que ele vai ficar bem? – perguntei entre soluços
Maria – Não sei, meu amor, só o tempo o dirá! Mas tens que ter muita força...
Fi – Não sei se consigo!
Maria – Vais ter que conseguir, por ele, pelo Francisco que está preocupadíssimo contigo, mas principalmente pela Matilde, ela está mesmo mal!
Fi – Onde é que ela está, mãe?
Maria – Está ali ao fundo – diz apontando para a sala de espera – Bem, eu vou falar com os médicos, assim que souber de alguma coisa, aviso – despediu-se de mim e foi-se embora. Dirigi-me até à sala de espera e encontrei a Matie, o Chico e os pais do Bernas. Apressei-me a cumprimenta-los.

Fi – Tem que ter calma, tia! Vai tudo ficar bem, ele é forte – disse tentando dar força à mãe de Bernas
Carmo – Eu sei minha querida, agora só nos resta rezar – diz fazendo-me uma festa no rosto
Fi – É isso mesmo. Olá tio – disse cumprimentando o pai de Bernas
Carlos – Olá, minha querida.

Aproximei-me de Matie e sentei-me ao lado dela. Limpei-lhe as lágrimas e disse-lhe:

Fi – Trouxe algo para comeres – disse tirando a caixa com comida que tinha dentro da mala
Matie – Não quero! – diz afastando a caixa
Fi – Tens que comer!
Carmo – A Filipa tem razão, a menina está aqui desde que o meu filho entrou neste hospital e ainda não a vi fazer outra coisa se não chorar, tem que se alimentar!
Matie – Agradeço imenso a preocupação, mas tenho um nó no estomago, não consigo sequer olhar para a comida...
Fi – Come só um bocadinho, tenho aqui bolo de ananás, eu sei que tu adoras!
Matie – Por favor, não insistas...
Carmo – Coma qualquer coisa, tem que ter forças quando for ver o meu filho.
Matie – Está bem, mas só um bocadinho!
Fi – Está bem, melhor que nada – passei-lhe a caixa e ela tirou uma fatia de bolo.

Passei a caixa por toda a gente, obrigando-os a tirar qualquer coisa e a comer, até eu tive de fazer um esforço para comer uma maçã... Passaram-se várias horas, durante esse tempo todo muitos de nós chorávamos. Eu chorava lembrando-me de todos, mas todos os momentos que passará com ele, a Matie chorava porque se sentia mal por só ter confessado que gostava dele naquele dia. Ela recordou todos os minutos passados com ele, deixando-se levar mais pelos momentos passados hoje no cinema. Ela sentia o mesmo que eu, ela não se iria perdoar se lhe acontecesse algo e ela não tivesse a oportunidade de se despedir ou simplesmente dizer-lhe um último «amo-te». A tia Carmo, mãe do Bernas sofria agarrada ao terço, não parava de pedir a Deus que salvasse o seu menino, nem quero imaginar a dor que ela sentia... Devia ser devastador pensar que poderia estar prestes a perder um filho. O tio Carlos e o Chico eram os únicos que permaneciam em silêncio, acho que estavam assim, porque queriam dar-nos força, mostrando-se fortes e confiantes. Confesso que o facto do Chico estar agarrado a mim, unicamente fazendo-me festas no cabelo, acalmava-me de certa forma, acho que se ele estivesse também a chorar eu choraria ainda mais. Eu, a Matie e a tia Carmo acabamos por adormecer. Estávamos cansadas e aquela dor consumia-nos as poucas energias que ainda tínhamos. Adormeci enquanto chorava, não sentia as palpebras e mal conseguia abrir os olhos. Sinceramente não tenho ideia de um dia em que tenha chorado tanto. Enquanto dormia tive sonhos de toda a espécie, sonhava que o Bernas não tinha resistido aos ferimentos e acabara por morrer naquela maca de hospital, sonhei que ele tinha lutado como um guerreiro e que tinha superado os ferimentos, que tinha sobrevivido e que dentro de poucos dias regressaria a casa, sonhei também que era eu que estava no lugar dele, que tinha sido eu a ser atropelada e que era eu quem estava entre a vida e a morte a lutar para sobreviver. Garanto que daria a minha vida pela dele sem pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás, garanto que não me importava de ter sido eu a ser atropelada por aquele carro, que segundo a Matie seguia em alta velocidade, e ser projectada pelo ar, caindo como uma pedra no chão e ali ficar, inerte e inconsciente até que alguém me levantasse e tirasse daquele lugar. Não me importava de passar por tudo aquilo, se isso implicasse que o meu melhor amigo, que adoptei como meu irmão, estivesse de plena saúde e em segurança na sua casa. O meu sonho, misturado com pensamentos foi interrompido por uma voz feminina e uma masculina que acabara de entrar na sala de espera. Era a minha mãe e um doutor, possivelmente o que estaria a seguir o meu Bernardo. O que será que nos tinham a dizer? Será que o Bernardo estava bem?

3 comentários:

  1. Mas um grande capítulo meu amor! Adorei, está lindo.
    Continuaaa!
    Beijinhos (L)

    ResponderEliminar
  2. Ai mê deus! O que é qe vai acontecer ao bernas? :o
    O chico e a Fi tavam num momento tão bom e tinha de receber uma chamada destas, jasuus!
    Beijinhoos, qero o próximo urgentemente!

    ResponderEliminar
  3. Não posso dizer (a)
    Podes crer, mas nem tudo corre como nós queremos...
    Beijinho e tem calma, ainda estou a pensar no que é que hei de escrever xD

    Obrigada Fifi (L)

    ResponderEliminar