sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Capítulo 13 - Decisões

Tinha passado duas semanas, desde aquele fatídico almoço em que eu tinha descoberto toda a verdade sobre o que realmente tinha acontecido na madrugada da passagem de ano e a minha mente estava unicamente ocupada com os testes para as bolsas de estudo. Utilizei as provas de admissão como fuga aos meus problemas, aos meus pensamentos, aos meus sentimentos, mas principalmente ao meu coração. Confesso que neste momento não sei o que se passa dentro da minha cabeça ou nos confins do meu coração, mas muito sinceramente não sei se quero descobrir, não sei se quero mexer nesse turbilhão de sentimentos… A única coisa que eu sei é que combinei um café com o Bernardo, antes de irmos ver os resultados das provas e já estou super atrasada!

- Finalmente! – exclamou o Bernardo assim que me acerquei

- Desculpa, estava um trânsito caótico! – tentei desculpar-me

- Mesmo que não tivesse, ias chegar atrasada… - sussurrou

- Tens razão – acabei por admitir e soltamos umas breves gargalhadas

- Então, já sabes o que vais fazer? – perguntou-me

- Em relação a quê? – perguntei fazendo-me de desentendida

- Sabes bem do que é que eu estou a falar, Fi... Estou a falar de ti e do Francisco.

- Não há nada a fazer – disse calmamente

- Não quê?! Tu só podes estar a gozar, Filipa! – disse rudemente – O Francisco anda à duas semanas a tentar falar contigo e a resposta que lhe dás sempre é: «tenho que estudar» e agora dizes-me que não há nada a fazer?! – repreendeu-me num misto de desilusão e irritação

- Sim, não há nada a fazer! Daqui a bocado vou ver as notas das provas e depois logo vejo que decisão tomar…

- Tu não podes brincar assim com os sentimentos das pessoas! Uma coisa é não conseguires lidar com os teus problemas, outra completamente diferente é envolveres pessoas no meio, pessoas que gostam imenso de ti e que estão a sofrer! – vociferou – Estou muito desiludido contigo, muito mesmo. E agora, estás por tua conta! Quando resolveres o que queres fazer, diz-me – levantou-se e foi-se embora, deixando-me ali a pensar no que ele acabara de dizer.

Ele tinha razão, eu estava a fazer sofrer o Francisco e isso não podia ser, eu não tinha o direito de o magoar desta maneira, eu tenho que resolver isto e é já, não posso adiar mais esta situação.
Decidida a mudar o rumo do que até então eram os meus dias, peguei no meu telemóvel para ligar ao Francisco, eu tinha que falar com ele! Pois, tinha… Primeiro tenho que atender esta chamada.

- Estou? - perguntei

- Fiiii – era a voz inconfundível da Mica, a minha melhor amiga -, onde estás?

- Olha, estava no café da Rute, vim beber café com o Bernardo, mas a conversa não correu lá muito bem… - disse desanimada

- Então? – perguntou-me preocupada

- Depois conto-te! Onde estás?

- Estou à porta da escola com a Matilde e a Beatriz!

Conseguia ouvir do outro lado da ligação a Beatriz a reclamar o facto de eu estar demorada.

- Ok, então eu vou já para aí! Beijinhos – e desliguei a chamada.

Olhei para o fundo do meu telemóvel, que era uma fotografia minha e do Francisco agarrados, na quinta dos meus avós. Como eu tenho saudades desses tempos…
Não posso voltar a pensar nisso, agora tenho é de me despachar, pois, estou extremamente ansiosa para saber se recebi a bolsa de estudo ou não! Parece que terei de falar com o Francisco mais tarde…
Passados dez minutos já me encontrava ao lado das minhas amigas, para sabermos as notas das provas de admissão e pelo caminho até ao pavilhão onde estas se encontravam afixadas, fui contando a curta conversa com o Bernardo.

- Ele tem razão… – acabou por admitir a Matilde

- Mas eu sei disso, Matie! Mas eu não posso tomar nenhuma decisão sem saber a nota das provas! Imagina que eu passo, como é que depois ficamos?

- Acho que estás só a arranjar desculpas para evitares falar com ele, tens medo do que sentes e da maneira como te irás comportar ao pé dele – declarou a Beatriz

- Não se trata disso… - principiei

- Então trata-se de quê? Admite que tens medo, Filipa, admite! – gritou a Beatriz

- Pronto! Eu admito, tenho medo, medo do que sinto, do que vou sentir, do que ele sente, tenho medo de tudo! Feliz? – perguntei irritada

- Agora que deitaste tudo cá para fora? Muito! – respondeu-me com um largo sorriso e todas me abraçaram

- Mas vá, agora vamos é ver as notas! – afirmou a Mica

Dirigimo-nos até ao placar onde estavam as notas, mas rapidamente percebemos que seria impossível vermos os resultados, pois estava imensa gente à volta do placar e não havia uma única brecha.
Irritada com a situação, comecei a pedir licença e com esta me foi negada, comecei a empurrar as pessoas que se encontravam á minha frente, com o intuito de conseguir chegar perto do placar.

- Com licença – pedi – Ai, deixem os outros ver! – gritei

Assim que gritei, todos os rostos se voltaram para mim e fixaram-me como se fosse a primeira vez que me viam.
Estranhei, pois muitos daqueles rostos eram-me conhecidos…
Abriram caminho para que eu pudesse ver o papel que tinha como título: «RESULTADOS DAS PROVAS DE ADMISSÃO À BOLSA DE ESTUDO» e muitos deles ao afastarem-se, sorriam-me cordialmente, algo que hoje em dia não era muito comum… Não liguei e avancei para poder ler o papel, tal como as minhas amigas.
Confesso que fui um pouco egocêntrica, pois fui logo à procura do meu nome na lista e lá estava ele! Eu tinha sido aceite na Royal Academy of Dramatic Art, a prestigiadíssima escola de artes dramáticas de Londres!

- Passei! – gritei entusiasticamente

- Eu também! – gritou a Mica

Abraçamo-nos fortemente, pois já era óptimo ter ganho uma bolsa de estudo na prestigiadíssima escola de artes de Londres, mas tornava-se perfeito a partir do momento em que a minha melhor amiga também tinha sido aceite! Mas algo estava errado, porque é que a Matilde e a Beatriz não se tinham juntado a nós? Onde é que elas estavam? Voltei a ver a lista e reparei que elas não tinham sido aceites…
Corri para abraçar a Matilde que estava num estado lastimável.

- Aquilo está errado, só pode! As provas correram-te super bem, foste das melhores, até os professores disseram isso – disse ao abraçar a Matie

- Não correu bem o suficiente para ser aceite na Royal Academy! – disse não conseguindo controlar as lágrimas que não paravam de lhe molhar a face

- Vá, não fiques assim! Nós temos de… - fui interrompida por uma mão que pousou em cima do meu ombro

Virei a cara para ver quem era e fiquei estupefacta quando encarei com a cara do Francisco ali à minha frente, a menos de dez centímetros de mim. Já não dava para adiar mais aquela conversa e prova disso, era a presença dele ali.

- Podemos falar? – perguntou-me

- Não, não vês que a Matilde está mal? – disse rudemente

- Fi, vai lá falar com ele, eu fico bem – assegurou-me a Matilde

- Tens a certeza? – perguntei desejando que a resposta dela fosse «não», tinha muito medo daquela conversa

- Sim, tenho – acabou por confessar por entre soluços

Não havia volta a dar, larguei a minha amiga que estava despedaçada por não conseguir realizar o seu sonho e preparei-me para enfrentar o meu presente e quem sabe, o meu futuro.
Dirigimo-nos para o exterior do pavilhão e sentamo-nos num banco, para podermos começar a tal conversa que eu tentava evitar a todo o custo.

- Então, já foste ver os resultados? – perguntou-me de um modo cordial que tão bem o caracterizava e para me deixar ainda mais nervosa, sorriu-me de um jeito terno e delicado

- Sim, consegui a bolsa – admiti envergonhada, baixando a cabeça

Num gesto extremamente carinhoso, o Francisco pousou a mão debaixo do meu queixo, levantou-me a face e olho nos meus olhos, como se esperasse qualquer reacção da minha parte.

- Eu sabia que conseguias, sempre soube – deu-me um abraço forte, mas inesperado, longo, mas carregado de sentimento – Muito parabéns – felicitou-me desfazendo-se do nosso abraço

Assim que nos separamos, permanecemos com o olhar fixo um no outro, como se estivéssemos presos a uma espécie de corrente da qual não nos conseguíamos libertar. E sem que o pudéssemos evitar e o pior (ou o melhor, não sei bem) aconteceu, as nossas testas uniram-se e as nossas bocas colaram-se. Não foi um beijo normal, como os que em temos costumávamos dar, aquele era diferente. Estava marcado por uma panóplia de sentimentos, paixão, saudade, tristeza, felicidade, cumplicidade, desilusão, … Nenhum de nós o conseguia terminar aquela caricia, notoriamente era desejada por ambos, mas esta não poderia continuar, eu ia para Londres e ele ficava cá. Eu tinha que parar isto, antes que fosse tarde demais!

- Desculpa… - pediu o Francisco enquanto tocava nos seus lábios, como se tivesse a comprovar de que eu os tinha beijado, como se não acreditasse que aquilo tinha mesmo acontecido

- Isto não devia ter acontecido! – disse enquanto me levantava bruscamente e ainda zonza com tudo o que tinha acontecido

- Filipa, espera! Onde é que vais? – perguntou-me alarmado

- Eu… eu… tenho que ir andando – disse enquanto agarrava a minha mala e começava a correr

- Espera! – gritou – Não fujas! Não me faças isso outra vez – pediu

Mas eu não acedi ao seu pedido, eu só queria sair dali e perceber o que realmente tinha acontecido, o que é que tinha sido aquilo? Porque é que nós beijamos? Porquê? Essa era a pergunta que não saia da minha cabeça e para a qual eu não tinha resposta. E agora? O que é que eu vou fazer? Fugir aos meus problemas e partir o mais rapidamente para Londres ou ficar aqui e resolver as coisas com o Francisco? E em relação à Matilde? Devo ignorar a bolsa de estudo que me foi dada e ficar cá com a minha amiga ou devo pensar mais em mim e seguir os meus sonhos? Tantas perguntas e nenhumas respostas…