segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Capítulo 4 - Não sei se me consegues ouvir

Fi:

Ainda estava atordoada, uma parte de mim não acreditava no que tinha acontecido… Porquê a ele? E porquê logo agora que estava tudo a correr tão bem? Cada vez tenho mais a certeza de que quando estamos felizes algo acontece para nos estragar a felicidade! Ouço alguém a aproximar-se e duas vozes, uma reconheço perfeitamente, é a da minha mãe, mas a outra… Acho que nunca a ouvi… Talvez seria o médico que estava a tratar do meu Bernardo… Claro! A mãe tinha dito que voltava quando tivesse notícias! Por favor, que sejam boas notícias, não vou aguentar perder o Bernardo… - Mal pensei em tal coisa, o meu rosto foi invadido por rio de lágrimas, não conseguia parar de chorar, era mais forte que eu.

Chico – Amor, tem calma, ouve o que a tua mãe tem para dizer! – diz afagando-me as lágrimas
Fi – Não consigo, desculpa – digo abrindo os olhos muito lentamente
Maria - … O Bernardo entrou em estado coma, com o impacto violento do carro e tem umas hemorragias internas.
Doutor – Sim, mas nada de grave.
Fi – Estado coma? – disse alarmada
Maria – Tem calma, meu amor, nestes casos é normal isto acontecer… - diz tentado acalmar-me
Fi – O meu melhor amigo está em estado coma e a mãe diz-me que é normal! – disse irritada
Doutor – É perfeitamente normal que se esteja a sentir assim, vou buscar-lhe um calmante.
Fi – Eu não quero calmante nenhum, eu quero o meu melhor amigo! – disse entre soluços e lágrimas
Chico – Filipa, tem calma, vai tudo correr bem, vais ver! – diz abraçando-me
Fi – E se não correr? – perguntei a muito medo
Carmo – Nem penses em dizer isso, o Bernardo é forte! Ele vai conseguir, eu sei que vai… - diz abraçando-me também
Fi – Desculpe, tia Carmo!
Carmo – Eu compreendo o que estás a sentir…
Maria – O Bernardo já pode receber visitas – diz na esperança de nos animar
Carmo - Vai tu primeiro, meu amor – diz afagando-me as lágrimas
Fi – Não. Nem pense, tia. Vá primeiro com o tio – disse retribuindo-lhe o gesto
Maria – Só pode ir um de cada vez.
Fi – Mãe, abra uma excepção, vai só a tia e o tio, depois vamos nós um a um, prometo!
Maria – Está bem, acompanhem-me – diz indicando o caminho com o braço

Os pais do Bernas saíram da sala de espera e fiquei eu, a Matie e o Chico. O Chico nunca me largou um único instante. Eu sabia que isto também lhe estava a afectar, pois eles agora estavam a criar laços de amizade maiores, mas ele não o mostrava só para não me fazer sentir pior. Eu agora tinha a certeza que era o Chico quem eu queria e quem eu amava com todas as minhas forças! Mas não conseguia deixar de pensar que o meu Bernardo podia ficar agarrado a uma máquina para o resto da sua vida. Eu sei que ele pode acordar, mas também sei que ele pode ficar sempre assim a sofrer… Ele não merecia isto! Ele não! Ele é a pessoa com mais vida e amor por ela que existe neste mundo, não podem tirar-lhe o que ele mais gosta, o prazer de viver. Ele ainda tinha tantos sonhos por realizar e eu tantas coisas para lhe dizer… Mas isto não pode ficar assim! Não é justo… Senti algo tocar-me, mas não percebi o quê, estava perdida em pensamentos que só depois de alguns abanões é que percebi que era o pai de Bernas.

Carlos – Minha querida, a Carmo está lá à tua espera…
Fi – Não, a Matie é que vai agora – disse olhando para Matie
Matie – Não, vai tu, a sério! Peço-te… - diz fazendo algum esforço para olhar para mim
Fi – Tens a certeza?
Matie – Sim… - diz tentando projectar a voz, mas esta saia como um sussurro

Dirigi-me até ao quarto onde estava o Bernardo e ouvi a tia Carmo a falar com ele.

Carmo – Porquê a ti, meu filho? Porquê? – pergunta chorando – Nunca vi ninguém com tanta vida como tu! É uma injustiça alguém querer tirar-te de mim… Eu acredito que estás a ouvir tudo o que estou a dizer – diz soluçando – A culpa disto é toda minha! Eu devia ter-te ido buscar ao Colombo, se eu te fosse buscar, nada disto tinha acontecido e tu neste momento estavas deitadinho na tua caminha a dormir e nós não estaríamos nesta inquietação. Só irei sair deste hospital quando tu estiveres bom, nem que para isso tenha que viver cá o resto da minha vida, prometo-te!

Ao ouvir tais palavras, comecei a chorar desalmadamente e acabei por assustar a tia Carmo.

Carmo – Não sabia que estavas aí…
Fi – Desculpe, não era minha intenção ouvir a conversa, mas também não a queria interromper…
Carmo – Não tens que pedir desculpa, eu faria o mesmo – dá um beijo no rosto do filho e passa a mão pelo cabelo dele – Estou lá fora à tua espera, meu amor! A mãe ama-te muito, não te esqueças disso – e saí do quarto com as lágrimas a percorrerem-lhe o rosto.
Fi – Então campeão? – disse com as lágrimas a escorrem-me pela face – Tens que ter força, eu acredito que és capaz de superar isto! – fiz uma pausa e olhei para o Bernardo e meti a minha mão por cima da dele – Diz-me, porquê a ti? E logo agora… Tu não mereces isto, és a melhor pessoa que conheço a pessoa com mais vida… Troca comigo! Deixa-me deitar nessa cama, deixa-me ser eu a sentir essas dores, deixa-me ser eu a estar em coma… Faço tudo para te tirar daí! Diz-me uma maneira, só uma e eu faço… - limpei as lágrimas a um lencinho que tinha na mala  e disse – Não sei se me consegues ouvir ou não, mas… Eu não estou a aguentar, eu amo-te demasiado para ter ver assim… nesse estado… és sem dúvida o melhor irmão do mundo, sabes bem que te vejo como um irmão e não como um mero amigo, tu és como se fosses da família… Peço desculpa, por todas as vezes em que me chateei contigo, por todas as vezes que fui parva sem razão e por todas as vezes em que te devia dar um abraço e em vez disso dei uma chapada… Sabes? Eu nunca pensei em ver-te assim, a passares por isto tudo, mas acredita que tenho a maior fé do mundo e acredito que te vais safar desta! Como te tinha dito, não sei se me consegues ouvi ou não, mas eu acredito que sim… Sabes, eu e o Chico já estamos bem, ele explicou-me tudo… Eu amo-vos tanto, mas tanto! Vocês são os homens da minha vida! Não me deixes meu amor, peço-te… Desculpa, mas tenho que chamar a Matie… Ela está mesmo muito mal, ela mal consegue abrir os olhos. Eu sei que foi muito pouco tempo, mas eu depois volto, prometo! – agarrei na mala e procurei o meu telemóvel, agarrei nele e mandei uma mensagem à Matie, não queria deixar o Bernas ali sozinho…

«Matie, vem ter aqui ao quarto, não quero deixar o Bernas sozinho…»

Em menos de dois minutos, senti alguém atrás de mim, era a Matie e o Chico. Apressei-me a limpar as lágrimas, dei um beijo no rosto do Bernardo e disse: - Força campeão, amo-te! – e deixei lá a Matie com ele. Aproximei-me da porta, onde o Chico estava à minha espera e olhei para trás, vi a Matie deitada sobre a mão dele perdida em soluços e lágrimas. Tentei pôr-me no lugar dela e pensar como ela se estaria a sentir. Tinha começado a namorar hoje com o rapaz que ama e nesse mesmo dia vê-o ser atropelado e fica a saber que ele está em coma… Devia ser devastador! Mas também quem estava a sofrer imenso era a tia Carmo, como é que seria estar na posição dela? Nem quero imaginar o sofrimento que está a passar… Ver o filho ali deitado e não puder fazer nada deve ser aterrorizador… A lei natural da vida é vermos os nossos pais a sofrer e acabar por vê-los morrer, não o contrário…

Chico – Que se passa?
Fi – Sinto-me mal…
Chico – Queres que vá chamar alguém? – perguntou preocupado
Fi – Não, amor. Sinto-me mal no sentido de não puder fazer nada por ele, percebes?
Chico – Agora só ele é que pode fazer alguma coisa, bebé…
Fi – Eu sei, mas ao menos podia ajudar a mãe dele! Deve ser horrível estar a passar por isto tudo…
Chico – Eu sei, mas tu também estás mal. Não penses nisso, vamos para casa, vais deitar-te na cama e descansar, sim?
Fi – Desculpa, mas não quero… Se queres vai tu para minha casa, levas as minhas chaves – disse procurando as minhas chaves
Chico – Não te vou abandonar aqui, mas promete-me que amanhã vais a casa! – diz olhando-me nos olhos
Fi – Está bem, mas hoje fico aqui…
Chico – Combinado, diz agarrando a minha mão

Dirigimo-nos à sala de espera e reparei que a tia Carmo havia adormecido, havia sido derrotada pelo cansaço. Sentia-me bem ao vê-la dormir, pois era a única maneira desta descansar. Sentei-me ao lado do tio Carlos e abri a minha carteira para tirar algum dinheiro

Fi – Tio, quer café? – perguntei num sussurro
Carlos – Sim, minha querida – diz tentando alcançar a carteira dele
Fi – Deixe estar, eu pago este!
Carlos – Obrigada – diz fazendo um esforço para sorrir, ao qual retribui
Fi – Chico, também queres?
Chico – Sim, se faz favor. Parece que esta vai ser uma noite muito longa… - diz levantando-se
Fi – Nem me digas nada… Deixa-te estar, eu vou sozinha. Preciso de organizar um pouco as ideias…
Chico – Tens a certeza?
Fi – Tenho…
Chico – Qualquer coisa, liga.
Fi – Obrigada – disse dirigindo-me à saída da sala

Fui em direcção à máquina dos cafés que se encontrava num dos corredores. Nunca tinha visto estes corredores assim tão vazios, cada vez que aqui vinha estavam cheios de pessoas com exames para mostrar, outros para fazer, pensos para tirar, gessos para pôr, estes corredores eram os mais movimentados de todo o hospital, mas agora estavam vazios… Vazios de vida, mas cheios de tristeza… Não era assim que via este piso, lembro-me de ver algumas crianças a correr de um lado para o outro e senhoras a discutir sobre qual seria a sua próxima intervenção cirúrgica, mas agora não havia correrias, nem discussões. Agora, só havia tristeza, a tristeza que me consumia e que preenchia este corredor por completo. Estava a ser cada vez mais consumida pela tristeza que havia dentro de mim, a tristeza de estar a perder alguém que nos é importante, a tristeza de não se ter dito tudo o que havia para dizer. Será que ele sairia pelo seu próprio pé por onde tinha entrado, sendo transportado por uma maca que era empurrada por médicos que gritavam: «miúdo de 17 anos atropelado, entrou em paragem respiratória! Saiam da frente!»? Ele adorava contrariar tudo e mais alguma coisa e acredito que lhe daria um enorme prazer contrariar esta situação também.
Estava parada a olhar fixamente para a máquina, absorta em pensamentos que nem me tinha dado conta que já tinha parado e que estava em frente à máquina dos cafés. Aquilo seria possível? Estaria a ser tomada também pelo cansaço? Era melhor despachar-me, eles poderiam estar a ficar preocupados com a minha demora. Tirei os cafés e regressei à sala de espera, tentado não pensar no que estava a acontecer.

Fi – Aqui têm – disse entregando os cafés
Carlos – Obrigado – diz mais uma vez tentado sorrir
Chico – Obrigado – diz passando a mão pelo meu cabelo e puxando a minha cabeça para o seu ombro
Fi – Eu tenho que ir num instante à casa de banho, seguras no meu café?
Chico – Claro!
Fi – Obrigada – dei-lhe o café para a mão e levantei-me – Com licença…
Carlos e Chico – Força.

Enquanto me dirigia para a casa de banho lembrei-me de passar pelo quarto do Bernas para ver se a Matie precisava de alguma coisa. Dirigia-me ao quarto e de repente fui tomada por uma nova sensação, o nervosismo. Não sabia porque é que estava nervosa, mas a verdade é que estava e muito, mas porquê?
Encontrava-me agora à porta do quarto do Bernas. Bati à porta, mas como ninguém me respondeu, decidi avançar.

Fi – Posso? – Ninguém me respondeu e eu percebi logo o porquê, a Matie tinha acabado por adormecer
Fi – Matie… Acorda, estás toda torta, amor – disse preocupada  
Matie – Hã? – pergunta ensonada
Fi – Adormeceste aqui… Queres alguma coisa?
Matie – Não, obrigada – diz tentando abrir os olhos
Fi – Tens a certeza? Nem um café?
Matie – Sim, um café aceito…
Fi – Queres que te vá buscar ou vamos as duas?
Matie – Vens comigo?
Fi – Claro, vamos! – disse erguendo-lhe a mão
Matie – Obrigada – diz agarrando a minha mão

Mantivemo-nos em silêncio até à máquina do café e o mesmo se repetiu até ao quarto do Bernardo.

Fi – Bem, vou andando para a sala de espera…
Matie – Não, fica aqui… connosco… - diz com um olhar suplicante
Fi – Mas eu… - olhei-a nos olhos e aquele olhar… Eu não conseguia dizer-lhe que não – Claro, eu fico aqui convosco – disse sentando-me ao lado da Matie

Não proferimos uma palavra e não nos encaramos uma única vez, o nosso olhar estava centrado no Bernas. Estávamos perdidas em pensamentos, em recordações sendo estas boas e más, mas não conseguíamos tirar da cabeça o que tinha acontecido hoje e como tudo tinha acontecido, ainda parecia tudo surreal… Com tantos pensamentos misturados com o cansaço e com o silêncio, acabámos por adormecer, até que somos acordadas por uma voz que nos fez saltar da cadeira.

Bernas – Onde é que eu estou? Porque é que estou ligado a isto?

Eu e a Matie olhámo-nos aterrorizadas! Seria aquilo um sonho? Seria aquilo real? E o que é que fazíamos agora? Se calhar seria uma partida do nosso subconsciente… E se fosse mesmo verdade? Estava finalmente a mentalizar-me de que ele poderia ficar assim para sempre e ouço a falar? Ok, eu só podia estar doente… Estarei a delirar? Mas a Matie também não diz nada, não fala, não se mexe, está como eu! Eu só posso estar a sonhar…

sábado, 8 de janeiro de 2011

Capítulo 3 – Tenho medo, muito medo

Irei seguir a sugestão da minha Ana Carolina de escrever a fic na perspectiva de uma personagem, espero que gostem :)
Não se preocupem, deixarei sempre bem claro em que perspectiva é que se está, para uma fácil interpretação.

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Perspectiva da Fi:

O meu telemóvel não parava de tocar e eu não sabia o que fazer... Atendo ou não atendo? Se atender vai dar a ideia de que não quero fazer isto, mas quero e muito, mas é melhor atender, pode ser alguém importante... Sim, não sei bem que horas são, mas quando estava a preparar alguma coisa para o Chico comer, lembro-me que eram 23h40, por isso, já deve ser 0h10. Que estranho, estarem a ligar a esta hora! Deve ser mesmo importante, é melhor atender. A muito esforço afastei-me do corpo do Chico, sentia-me fraca, sem forças.

Chico – Estás bem? Que se passa? – perguntou-me preocupado
Fi – Estou com um mau pressentimento – o meu telemóvel tinha-se calado, então corri até ele para ver quem é que me tinha ligado
Chico – Mau pressentimento? – perguntou confuso
Fi – Sim, não te sei explicar, mas sei que algo se passa e tenho que descobrir o quê – digo mexendo no telemóvel – Ah, foi a Matie que me ligou.
Chico – Deve estar preocupada, não disseste que tinhas que lhe ligar? – diz pondo-se de pé
Fi – Sim, é melhor ligar-lhe! Estou mesmo assustada...
Chico – Não estejas, estou aqui para tudo – diz pondo os seus braços em torno da minha cintura e enterrando a cabeça no pescoço, roubando-me beijinhos suaves
Fi – Obrigada, meu amor. Amo-te muito – confessei-lhe
Matie – Fi! Ainda bem que atendeste, não sabia a quem ligar – diz entre soluços
Fi – Tem calma, bebé! Respira! – digo preocupada
Matie – Não consigo... Vem depressa!
Fi – Para onde? O que é que se passa? Estou a ficar mesmo preocupada!
Matie – Foi o Bernas...
Fi – O que é que se passa? – perguntei preocupada por entre lágrimas. Eu sabia que algo se passava, sentia-o
Matie – Foi atropelado...

Após tais palavras não consegui ouvir mais nada a não ser as lágrimas que devoravam Matie e que começavam a devorar-me. Cai nos braços do Chico, já não tinha forças para mais nada, aquela noticia tinha-me deixado completamente devastada e a minha cabeça invadida por memórias antigas partilhadas com ele. Comecei a ver tudo a passar à frente dos meus olhos, desde o dia em que o conheci, até ao dia de hoje. Comecei a lembrar-me de todas as discussões, de todas as vezes em que fui bruta sem razão. Agora, só me conseguia lembrar de todos os momentos maus, de todos os erros que cometi e culpava-me por isso, por não ter aproveitado mais o tempo em que estive com ele e lamentava o facto de não o ter apoiado mais, de não o ter ajudado mais, lamentava-me de tudo, afinal ele era o meu melhor amigo e eu não o podia perder. Comecei a sentir umas mãos frias no meu rosto, eram as de Chico. Ele estava a preocupado, estava a tentar falar comigo, mas eu não o conseguia ouvir. A minha mente encontrava-se trancada e o meu corpo imóvel. Estava estática, o meu corpo não obedecia ao que o meu cérebro ordenava. Senti algo a abanar-me, algo estava a tentar trazer-me de volta à Terra, mas eu permanecia inerte, até que de repente senti algo, algo que me fez despertar. Eram lágrimas, não minhas, mas de outra pessoa. Senti a pessoa que chorava encostada a mim a pedir-me para voltar, para lhe dar um sinal de que estava bem. Essa pessoa era Chico. A muito esforço, tentei voltar a mim e deixar aqueles pensamentos de lado, mas não o fiz por mim, fi-lo pelo Chico.

Chico – Peço-te, volta! Diz alguma coisa, não aguento mais ver-te assim – implorou-me
Fi – Desculpa... – Ainda estava sentada no chão e a balouçar-me de um lado para o outro
Chico – Não tens que pedir desculpa! Estava tão preocupado! – diz abraçando-me
Fi – Desculpa, mas não sei o que aconteceu... – disse meio confusa
Chico – Entraste em estado choque, é completamente normal – diz tentado reconfortar-me
Fi – Onde é que ele está?
Chico – Está na CUF das Descobertas, a tua mãe já está lá, não te preocupes.
Fi – Tenho que ir para lá! – disse tentado levantar-me
Chico – Nem penses, não estás em condições. Passamos por lá amanhã.
Fi – Não! Eu quero ir hoje! – disse irritada
Chico – Filipa, não estás em condições para ir para um hospital!
Fi – Não te perguntei se estava ou não! Eu vou, é o meu melhor amigo, percebes? – disse levantando-me.
Chico – Pronto, tem calma. Eu vou chamar um táxi
Fi – Está bem. A Matie está lá?
Chico – Sim, ela estava com ele...
Fi – Coitadinha! Enquanto o táxi não vem, vou preparar qualquer coisa para ela comer...

O táxi não demorou muito e em menos de 25 minutos chegamos ao parque das nações, mais propriamente à CUF. Eu fui o caminho todo a chorar e a lamentar-me de tudo o que tinha feito de mal, tudo o que estragara por momentos a nossa amizade. Jurei a mim mesma que não me perdoaria se ele morresse e eu não tivesse a oportunidade de me despedir dele ou simplesmente dizer-lhe que o amava. Assim que chegamos, saí disparada do táxi, já tinha dado o dinheiro ao Chico, porque eu sabia que assim que chegássemos eu não iria ficar lá dentro à espera que se despachassem. Saí a correr da viatura e dirigi-me o mais depressa possível ao interior das instalações do hospital.

Fi – Boa noite, deu entrada aqui um rapaz chamado Bernardo de Almeida? – perguntei aflita
Senhora do balcão – Sim – diz olhando para o ecrã do computador - é familiar?
Fi – Sim, sou. A minha mãe, Maria Bettencourt é médica aqui, ela está a acompanhá-lo. Poderia dizer-me em que piso estão?
Senhora do balcão – Sim, a sua mãe disse-me que a menina chegaria a qualquer momento. Ela pediu-me que lhe entregasse os objectos pessoais do menino Bernardo e que lhe informasse que estão no Piso 3. Quando chegar lá acima pergunte à minha colega em que ala é que o seu amigo se encontra – diz dando-me os objectos do Bernas. Ao agarrar neles o meu rosto foi invadido novamente por lágrimas. Enquanto esta ainda me dava os objectos, senti a presença de alguém atrás de mim, era o Chico que acabara de chegar.
Fi – Muito obrigada – Agarrei na mão de Chico e comecei a correr até ao elevador
Chico – Tem calma, meu amor. Vai correr tudo bem, garanto-te!
Fi – Tenho medo, muito medo! E se lhe acontece alguma coisa?
Chico – Não penses agora nisso – deu-me um beijo nos lábios. A porta do elevador abriu-se e dirigimo-nos apressadamente para o balcão.

Fi – Boa noite.
Senhora do balcão – Boa noite.
Fi – Eu... – não terminei a frase porque fui interrompida pela senhora que se encontrava atrás do balcão
Senhora do balcão – Não é preciso dizer nada, a minha colega já me informou e a sua mãe também. Vá por aquele corredor – apontou para o corredor que se encontrava à minha direita – até chegar a umas portas com umas janelas redondas, entre e vire logo à direita. A Sua mãe já está aí à sua espera.
Fi – Muito obrigada! – disse começando a correr em direcção ao corredor
Senhora do balcão – De nada, mantenha a calma e tenha fé – gritou bem alto para que eu a ouvisse. Aquelas palavras aqueceram-me o coração e aumentaram a réstia de esperança que ainda havia dentro de mim. Seguia as indicações à risca e como me havia prometido, lá estava a minha mãe no fundo do corredor.

Maria – Filha!
Fi – Mãe – disse abraçando-a – como é que ele está? Diga-me!
Maria – Vais ter que ter calma, minha querida. Promete-me que és forte! – Pediu-me dando-me um beijo na nuca
Fi – Não consigo prometer-lhe isso, desculpe! – disse soltando algumas lágrimas
Maria – Ao menos promete-me que vais ter calma – pediu-me olhando agora nos meus olhos
Fi – Por favor, mãe, diga-me como é que ele está, não aguento mais!
Maria – Ele ainda está em observação e o prognóstico ainda é reservado...
Fi – Acha que ele vai ficar bem? – perguntei entre soluços
Maria – Não sei, meu amor, só o tempo o dirá! Mas tens que ter muita força...
Fi – Não sei se consigo!
Maria – Vais ter que conseguir, por ele, pelo Francisco que está preocupadíssimo contigo, mas principalmente pela Matilde, ela está mesmo mal!
Fi – Onde é que ela está, mãe?
Maria – Está ali ao fundo – diz apontando para a sala de espera – Bem, eu vou falar com os médicos, assim que souber de alguma coisa, aviso – despediu-se de mim e foi-se embora. Dirigi-me até à sala de espera e encontrei a Matie, o Chico e os pais do Bernas. Apressei-me a cumprimenta-los.

Fi – Tem que ter calma, tia! Vai tudo ficar bem, ele é forte – disse tentando dar força à mãe de Bernas
Carmo – Eu sei minha querida, agora só nos resta rezar – diz fazendo-me uma festa no rosto
Fi – É isso mesmo. Olá tio – disse cumprimentando o pai de Bernas
Carlos – Olá, minha querida.

Aproximei-me de Matie e sentei-me ao lado dela. Limpei-lhe as lágrimas e disse-lhe:

Fi – Trouxe algo para comeres – disse tirando a caixa com comida que tinha dentro da mala
Matie – Não quero! – diz afastando a caixa
Fi – Tens que comer!
Carmo – A Filipa tem razão, a menina está aqui desde que o meu filho entrou neste hospital e ainda não a vi fazer outra coisa se não chorar, tem que se alimentar!
Matie – Agradeço imenso a preocupação, mas tenho um nó no estomago, não consigo sequer olhar para a comida...
Fi – Come só um bocadinho, tenho aqui bolo de ananás, eu sei que tu adoras!
Matie – Por favor, não insistas...
Carmo – Coma qualquer coisa, tem que ter forças quando for ver o meu filho.
Matie – Está bem, mas só um bocadinho!
Fi – Está bem, melhor que nada – passei-lhe a caixa e ela tirou uma fatia de bolo.

Passei a caixa por toda a gente, obrigando-os a tirar qualquer coisa e a comer, até eu tive de fazer um esforço para comer uma maçã... Passaram-se várias horas, durante esse tempo todo muitos de nós chorávamos. Eu chorava lembrando-me de todos, mas todos os momentos que passará com ele, a Matie chorava porque se sentia mal por só ter confessado que gostava dele naquele dia. Ela recordou todos os minutos passados com ele, deixando-se levar mais pelos momentos passados hoje no cinema. Ela sentia o mesmo que eu, ela não se iria perdoar se lhe acontecesse algo e ela não tivesse a oportunidade de se despedir ou simplesmente dizer-lhe um último «amo-te». A tia Carmo, mãe do Bernas sofria agarrada ao terço, não parava de pedir a Deus que salvasse o seu menino, nem quero imaginar a dor que ela sentia... Devia ser devastador pensar que poderia estar prestes a perder um filho. O tio Carlos e o Chico eram os únicos que permaneciam em silêncio, acho que estavam assim, porque queriam dar-nos força, mostrando-se fortes e confiantes. Confesso que o facto do Chico estar agarrado a mim, unicamente fazendo-me festas no cabelo, acalmava-me de certa forma, acho que se ele estivesse também a chorar eu choraria ainda mais. Eu, a Matie e a tia Carmo acabamos por adormecer. Estávamos cansadas e aquela dor consumia-nos as poucas energias que ainda tínhamos. Adormeci enquanto chorava, não sentia as palpebras e mal conseguia abrir os olhos. Sinceramente não tenho ideia de um dia em que tenha chorado tanto. Enquanto dormia tive sonhos de toda a espécie, sonhava que o Bernas não tinha resistido aos ferimentos e acabara por morrer naquela maca de hospital, sonhei que ele tinha lutado como um guerreiro e que tinha superado os ferimentos, que tinha sobrevivido e que dentro de poucos dias regressaria a casa, sonhei também que era eu que estava no lugar dele, que tinha sido eu a ser atropelada e que era eu quem estava entre a vida e a morte a lutar para sobreviver. Garanto que daria a minha vida pela dele sem pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás, garanto que não me importava de ter sido eu a ser atropelada por aquele carro, que segundo a Matie seguia em alta velocidade, e ser projectada pelo ar, caindo como uma pedra no chão e ali ficar, inerte e inconsciente até que alguém me levantasse e tirasse daquele lugar. Não me importava de passar por tudo aquilo, se isso implicasse que o meu melhor amigo, que adoptei como meu irmão, estivesse de plena saúde e em segurança na sua casa. O meu sonho, misturado com pensamentos foi interrompido por uma voz feminina e uma masculina que acabara de entrar na sala de espera. Era a minha mãe e um doutor, possivelmente o que estaria a seguir o meu Bernardo. O que será que nos tinham a dizer? Será que o Bernardo estava bem?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Capítulo 2 - Explicação

O passe de Chico estava a dar vermelho, ele não sabia o que fazer, só pensava no quão mal se estaria a sentir Filipa depois de tudo o que tinha acontecido. O seu corpo foi invadido por uma dor nunca antes sentida, a dor de fazermos a pessoa que mais amamos no mundo sofrer. Era-lhe cada vez mais difícil de ver, a sua visão estava péssima, via tudo desfocado, até que o seu rosto é invadido pelas lágrimas. Ele nunca tinha chorado por uma rapariga, não que este seja orgulhoso demais para chorar por uma rapariga, mas nunca sentiu necessidade de chorar por nenhuma, talvez porque o sentimento que nutria por Filipa era inexplicável e maior, muito maior do que o que alguma vez havia nutrido por outra rapariga. A cancela continuava sem abrir e a cada minuto que passava derramava uma lágrima, só de pensar em como estaria a sua menina. Ele não conseguia ver ninguém chorar, mas imaginar que a rapariga que ele amava estava a chorar e ainda por cima por culpa dele, arrasava-o completamente. Ele tinha que fazer algo, não podia deixar que as coisas ficassem assim, então, em dois segundos recompôs-se, limpou as lágrimas e saltou para a cancela do lado, esta já abrira. Assim que a cancela abriu, Chico iniciou uma corrida frenética até à gare do metro, por sorte as portas ainda estavam abertas e ele entrou na primeira carruagem que viu. Estava a faltar-lhe o ar, mal conseguia andar e a muito esforço sentou-se nos primeiros lugares que viu. Após recuperar um bocadinho o fôlego olhou em redor, reparou que a carruagem se encontrava completamente vazia, tal como ele se sentia, irónico não? Tentou levantar-se, mas não conseguiu, as forças faltaram-lhe e ele acabou por cair em cima do banco onde se havia sentado. O seu telemóvel começou a tocar e este apressou-se para o atender.

Chico – Fi? – Perguntou esperando que fosse ela
Bernas – Desculpa, mano. Sou só eu…
Chico – Esquece, já sabia que seria impossível ser ela, mas há sempre uma pontinha de esperança
Bernas – Eu compreendo! Que voz é essa?
Chico – Olha é a que tenho…
Bernas – Não, tu estiveste a chorar?
Chico – Sim… Aquela miúda dá cabo de mim!

Naquele momento Filipa entra na carruagem onde Chico se encontrava, mas como este estava de costas não se tinha apercebido que ela entrara. Filipa tinha trocado de carruagem, ela não se sentia bem a chorar à frente das outras pessoas e na carruagem dela estavam lá algumas, ela estava tão nervosa que não tinha a menor percepção de quantas pessoas se encontravam lá, mas sabia que ainda eram algumas e na esperança de encontrar uma carruagem vazia, decide mudar-se. Ela pelo vidro percebe que não se encontra ninguém na carruagem seguinte e decide avançar. Ao entrar ouve uma voz, uma voz familiar, mas não a reconhece. Ela limpa os olhos vermelhos e cheios de lágrimas e vê que aquela voz era a do Chico. Ao entrar só ouve: «aquela miúda dá cabo de mim» e solta um soluço inesperado acompanhado de lágrimas que não consegue conter apesar do esforço. O Chico ao percebe-se que alguém se encontra mesmo atrás dele, vira-se assustado com o soluçar de Filipa.

Bernas – Tens todo o meu apoio, mas deixa-a acalmar, fala com ela amanhã (mas o Chico não o ouve)
Chico – Amor? – diz preocupado ao vê-la daquela maneira
Bernas – Hã?
Chico – Depois falamos, fica.

O Bernas não teve tempo de dizer nada, o Chico desligou logo o telemóvel. Chico apressa-se a levantar para agarrar Filipa, ele tinha que esclarecer tudo, ele ama-a! Chico põe os seus braços em torno da cintura de Fi, mas esta afasta-o.

Fi – Larga-me, odeio-te! – diz limpando as lágrimas
Bernas – Não, não odeias! Ouve-me…
Fi – Para quê? Para dizeres-me que ela dá cabo de ti? É? Estou farta destes jogos, desaparece de uma vez por todas da minha vida! Eu era tão feliz antes disto tudo. – Filipa engoliu em seco, custou-lhe imenso dizer aquelas palavras, principalmente porque não eram minimamente sentidas.

Chico ao ouvir tais palavras soltou um soluço e as lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto, ele nem se limitou a fazer um esforço para elas não aparecerem, porque ele próprio não sabia que elas iriam aparecer. Nenhum deles contava com tais lágrimas. Filipa ficou sem reacção e Chico não conseguia decifrar o seu olhar.

Fi – Escusas de chorar, porque eu sei muito bem o que ouvi!
Chico – Ouviste uma conversa entre mim e o Bernardo…
Fi – Não me tentes enganar!
Chico – Queres o meu telemóvel para confirmar? Ou melhor, liga-lhe. Ele como teu melhor amigo, não te irá mentir.
Fi – Não, não é preciso…
Chico – Então confias em mim?
Fi – Achas que tenho razões para confiar?
Chico – Claro que tens! Eu amo-te, nunca deixei de te amar! Perdi-te porque fui estúpido, preferi ouvir os meus amigos do que ouvir o meu coração, mas agora deixei-o falar mais alto… Não quero saber de mais ninguém, por favor, ouve-me…

Aquelas palavras soaram de forma tão sincera, tão genuína, que ela própria não conseguia explicar o que estava a sentir, aquilo aqueceu-lhe o coração, mas unicamente por breves segundos. Ela voltou a ser invadida pelo medo, o medo de que Chico a estivesse a enganar, mas aquilo parecia mesmo ter sido dito do coração, sem ser pensado.

Fi – Se me amas dessa maneira, porque é que andas a falar com essa tal Raquel?
Chico – É minha prima, não posso renegar a família, ou posso? – diz com um sorriso nos lábios por ver que o que tinha dito, tinha feito Filipa pensar duas vezes
Fi – Família?
Chico – Sim, já te esqueceste que tenho uma prima chamada Raquel?
Fi – Nem venhas com essa história, não cola!
Chico – Olha-me nos olhos, peço-te
Fi – Diz…
Chico – Achas que te estou a mentir? Ela vai ver o meu jogo de domingo, eu pedi-lhe…
Fi – Não sei…
Chico – Então fazemos assim, domingo vais ver o meu jogo e depois apresento-te a minha prima, pode ser?
Fi – Pode…

«Próxima paragem: Jardim Zoológico» desta vez Filipa também não se riu, não tinha disposição para tal, ao que parece o dia acabara por ser bom e mau...

Fi – Bem, até domingo – esforçou-se por sorrir, mas o sorriso não saiu
Chico – Espera!
Fi – Tenho que sair, a sério.

As portas abrem-se e Fi sai disparada, mas Chico vai atrás dela, as coisas não podiam ficar assim, ele gosta demasiado dela para permitir que tal aconteça.

Chico – Não posso esperar até domingo, desculpa! Acho que nós esperámos demasiado tempo para ficarmos juntos, não achas? Ainda por cima por causa deste mal-entendido… - diz agarrando no braço de Fi
Fi – Eu sei, mas…

Chico calou-a com um beijo, ele não conseguia ouvir mais nada, ele só precisava de um beijo de Filipa e Filipa só precisava de um beijo de Chico, para que tudo voltasse a fazer sentido… O beijo era tão desejado por ambos que não o conseguiam travar. Filipa não se lembrava de um beijo como aquele, um beijo tão apaixonado. No meio do beijo ouviu-se o Chico a dizer que a amava, Filipa incrédula com o que acabara de ouvir, afasta os seus lábios de os de Chico e olha-o nos olhos. Este tinha um sorriso de orelha a orelha, mas ainda se podia ver que tinhas estado a chorar, mas agora a única coisa que se podia ver nos seus olhos verdes era brilho, o brilho que alguém apaixonado carrega no olhar. Ela olhava-o fixamente, observava cada traço dele atentamente, a verificar o que sempre soubera, que ele era perfeito. Tinha uns olhos cativantes que a deixavam perdida, um sorriso que a fazia tremer, mas o que ela mais adorara no rosto dele, era mesmo o jeito de menino. Ela dizia que ele tinha uma: «carinha de bebé» e toda a gente o confirmava, ele era perfeitinho e ela amava-o tal como ele era.

Chico – Que foi? Porque é que estás a olhar assim para mim, bebé?
Fi – Nem sei…
Chico - «Minha macaca gira e bacana, esse focinho é que não me engana» - canta rindo-se
Fi - «E se a macaca gosta de banana, tu gostas de mim» - continua a canção rindo-se
Chico – Percebeste bem o que quis dizer, nem vale a pena mudares de assunto!
Fi – Já disse que não sei – diz fazendo beicinho
Chico – Não vais conseguir – diz fechando os olhos para não ver o beicinho de Fi
Fi – Pois pois – diz dando-lhe um beijo repenicado nos lábios
Chico – Vá amor, diz lá…
Fi – Pronto que chato… Estava a pensar que estava cheia de saudades tuas – diz envergonhada
Chico – Ohhh! Tão tolinha, eu também estava cheio de saudades tuas!
Fi – Oh – diz dando-lhe um beijo nos lábios – Já viste as horas? É tardíssimo! – diz olhando para o relógio
Chico – Vá, vamos. Eu levo-te a casa – diz dando-lhe a mão
Fi – Oh, mas depois tens de voltar isto tudo para trás!
Chico – E? Não te vou deixar andar sozinha na rua a estas horas, é perigoso.
Fi – Oh, tão querido!

Eles dirigem-se para a saída do metro entre beijos e caricias. Vão até à paragem dos autocarros que é mesmo atrás da saída do metro e mesmo a tempo, o 755 estava parado na paragem, eles correm um bocadinho para o apanhar, só para não terem de andar até casa de Filipa (não era muito longe, mas ir de autocarro era bem melhor). O caminho até casa de Filipa foi bastante rápido, menos de 5 minutos. Assim que saem do autocarro avistam logo o prédio de Filipa e dirigem-se para o mesmo.

Chico – Estás entregue – diz e dá-lhe um beijo apaixonado como forma de despedida
Fi – Sim, e tu também!
Chico – Hã? – pergunta confuso
Fi – Sim, meu menino. Não vais para casa a estas horas! Ainda tens que ir apanhar o comboio e subir aquilo tudo!
Chico – Mas a estação é já ali e eu não faço tensões de dormir na rua – diz rindo-se
Fi – Mas quem é que falou em rua? – diz rindo-se também
Chico – Então?
Fi – Vais dormir em minha casa! – diz abrindo a porta do prédio e puxando Chico para entrar
Chico – Mas… - é interrompido pelo beijo de Filipa
Fi – Mas nada, vais dormir aqui e acabou!

Foram até ao elevador e Fi carregou no 7, enquanto subiam, permaneceram unicamente de mãos dadas, Filipa tinha medo de ser apanhada por alguém, ela não gostava de estar aos beijos com um namorado e toda a gente a ver, aqueles momentos eram só deles e de mais ninguém e Chico sabia isso, então não forçou nada. Chegaram a casa de Filipa, o Chico nunca tinha lá entrado então, ficou muito admirado. Era a primeira vez que entrara na casa de Fi, mas notava que tudo tinha sido decorado por ela, era tudo tão simples, mas tão único. Não era uma casa muito cheia, era simples, mas cada objecto tinha sido escolhido a dedo. Filipa abre a porta, entra e pousa as chaves em cima duns livros que tinha em cima de uma mesa. Esta olha para trás e repara que não estava a ver o Chico, então recua e vê que este estava a admirar a casa do lado de fora e ri-se.

Fi – Pensava que não era preciso dizer-te para entrar, és meu namorado… - assim que se apercebe do que acabara de dizer, olha para o rosto de Chico procurando alguma resposta, alguma reacção, mas nada. O seu rosto estava sem expressão então uma tristeza invade o coração de Fi e esta limita-se a baixar a cabeça e a fixar o seu olhar no chão. Chico estava abismado, ainda estava ainda estava a digerir aquelas palavras, ela acabara de lhe chamar namorado, a rapariga que ele mais amava tinha-lhe chamado namorado! Ele assim que cai em si, olha para Fi com um ar de felicidade, ele não conseguia acreditar no que acabara de ouvir, mas… Ele não percebia porque raio é que ela estava com os olhos postos no chão, que se passava? Então, ele aproxima-se dela e levanta-lhe o rosto cuidadosamente e fixa o seu olhar nos olhos dela, tentando decifrar o que ela estava a sentir naquele momento.

Chico – Meu amor? – diz preocupado
Fi – Diz… - diz com uma voz triste
Chico – Que se passa?
Fi – Não te devia ter chamado aquilo, desculpa…
Chico – Estás arrependida?
Fi – Sim… Quer dizer, não… Opá, sei lá!
Chico – Não sabes se queres ser minha namorada?
Fi – Sei, é o que mais quero! Mas… - foi interrompida por um beijo apaixonado de Chico, o beijo do metro que ela achava que tinha sido o melhor beijo da vida dela, ficava muito atrás deste! Este tinha sido o melhor beijo da vida dela, um beijo ternurento e cheio de amor.
Chico – Esclarecida?
Fi – Muito! – diz dando-lhe um beijo repenicado nos lábios. Enquanto lhe dava o beijo ouve a barriga de Chico a fazer barrulho e ambos riem-se.
Fi – Já com fome? – pergunta admirada
Chico – Não tenho culpa!
Fi – Vá, vou mostrar-te o resto da casa e depois vou fazer qualquer coisa para comeres, sim bebé?
Chico – A minha barriga diz sim – diz rindo-se

Filipa mostrou o resto da casa a Chico e este mostrou-se sempre admirado e interessado pela casa da namorada.

Fi – Bem a sala já viste, agora vamos para o armário, como eu lhe chamo.
Chico – Tu tens um quarto a fazer de armário?
Fi – Tinha de enche-lo com alguma coisa, sim?
Chico – Sim, roupa para ele tens tu!
Fi – Até parece oh.
Chico – ah, já me esquecia! Por falar em roupa, tenho uma coisa que podes pôr aí num dos mil cabides – diz deitando-lhe a língua de fora
Fi – Ah, pois é! Também tenho aqui uma prenda para ti!
Chico – A sério? Deixa-me ver!
Fi – Toma – diz dando-lhe a prenda para a mão
Chico – Eu não acredito! É linda! Adoro adoro adoro, é mesmo a minha cara, amor! – diz dando-lhe um beijo
Fi – Gostas?
Chico – Claro! Vá, abre a tu – diz dando-lhe a prenda para a mão
Fi – Ahhhh! Não acredito! Como é que sabias que queria este vestido? É lindo! – diz dando-lhe um beijo
Chico – Gostaste mesmo?
Fi – Adorei, obrigada!
Chico – De nada, bebé. Então mas a visita guiada acabou?
Fi – Não – diz rindo-se

Fi – A cozinha – diz apontando
Chico – A minha parte favorita de todas as casas – diz rindo
Fi – Calma, amor. Assim que acabarmos, eu venho fazer qualquer coisa para comeres!
Chico – Oh, não é preciso!
Fi – Perguntei-te alguma coisa?
Chico – Ganhas sempre, fogo – diz resmungando

A visita guiada continua e eles passam por todas as divisões da casa e Chico continua com o mesmo brilho no olhar, observando cada recanto com a máxima atenção.

Escritório e quarto de hóspedes                                                      
  
  


Quarto da Fi e Casa de banho privativa

Sala de Jantar e casa de banho comum



Após toda a casa mostrada, Fi dirige-se novamente para o quarto seguida de Chico, esta tinha se esquecido de deixar a prenda que ele lhe tinha dado e as prendas que ela tinha comprado, no quarto.
Fi – Bem, vou fazer qualquer coisa para comeres, meu amor – diz sorrindo, sabia-lhe bem chamar-lhe meu amor e cuidar dele em sua casa
Chico – Bora, eu ajudo!
Fi – Estás doidinho, só pode!
Chico – Não, vou ajudar-te, bebé – diz aproximando-se dela
Fi – Nem penses, vais ficar aqui, ou onde quiseres e vais ficar a vontade como se estivesses em tua casa, sim?
Chico – Mas posso ajudar-te na mesma – diz rindo-se
Fi – Não! Shiu! – diz rindo-se e dirigindo-se à cozinha

Chico estava a observar atentamente o quarto de Fi e repara numa fotografia, era a fotografia deles, ela tinha-a guardado! Agarrou nela e sentiu uma felicidade imensa, pois ele também a tinha guardado. Decidiu sentar-se, mas não largou a fotografia, manteve-se sempre a olhar para ela, até que acabou por adormecer.
Na cozinha, encontrava-se Filipa a preparar umas sandes, uns croissants, algumas frutas e sumo natural, afinal ele era jogador de futebol, não podia comer porcarias. Com o tabuleiro pronto, ela dirige-se ao quarto e repara que Chico tinha adormecido com uma coisa na mão, mas não conseguia perceber o que era. Pousou o tabuleiro em cima da mesa que se encontrava em frente à sua cama e chegou-se perto dele, ele parecia mesmo um bebé a dormir, estava tão querido! Quando olha para a mão dele vê que este agarrava a fotografia deles e pensou: «oh, tão querido, adormeceu a olhar para a nossa fotografia», mas o seu pensamento foi interrompido pelo roncar da barriga de Chico e esta deu uma gargalhada baixinha para não o acordar, mas tinha de o acordar, para além deste estar a dormir torto estava cheio de fome. Mas custava-lhe tanto ter de o acordar… Mas teve mesmo de ser. Filipa meteu-se de joelhos em frente a ele e começou a brincar com o cabelo dele e a dar-lhe beijinhos no rosto e nos lábios.

Fi – Chico – chamou baixinho – Acorda amor, estás todo torto e cheio de fome – deu-lhe um beijo repenicado nos lábios
Chico – Só mais um bocadinho, vá lá – disse resmungando
Fi – Vá, não faças fita – diz dando-lhe beijos suaves no rosto
Chico – Isso é jogo sujo – diz resmungando. Puxou Filipa para o colo dele e sentou-se
Fi – É sujo, mas acordou-te – diz empurrando-o de modo a que este fique deitado na cama
Chico – A acordar uma pessoa dessa maneira, quem é que não acorda? – voltou à posição em que estava, dando um beijo apaixonado a Fi
Fi – Vá, agora tens que comer, estás cheio de fome e enquanto comes, tenho que ligar à Matie ela pediu-me para lhe ligar quando chegasse a casa e só me lembrei agora!
Chico – Tem mesmo que ser?
Fi – Sim… Mas por mim ficava aqui, mas…
Chico – Então ficamos aqui! – diz puxando o corpo de Fi para ele
Fi – Não pode ser… Tu tens que comer, eu tenho que ligar à Matie e ainda tenho que ir trocar de roupa – diz tentando levantar-se, mas em vão
Chico – Eu posso ajudar-te… - sugeriu ao ouvido de Fi
Fi – Já com esses pensamentos? – diz empurrando Chico novamente para cima da cama
Chico – Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti, nunca ouviste dizer? – diz com um sorriso maroto a rasgar-lhe o rosto

Filipa deixou-se cair suavemente para cima de Chico e encostou-se ao peito dele, sentido cada traço do seu peito e ouvindo cada batimento do seu coração. Um cheiro penetrou o nariz de Filipa, era o cheiro de Chico, um cheiro que conseguia distinguir estivesse onde estivesse. Ela já tinha imensas saudades daquele cheiro tão único e característico dele, tinha saudades de ficar com o cheiro dele na roupa. Após alguns minutos assim deitados Filipa decide quebrar o silêncio.

Filipa – Gosto mesmo muito de ti – diz baixinho
Chico – Eu gosto ainda mais – diz brincando com o cabelo dela
Filipa – Não me importava de ficar assim para sempre… - diz olhando-o agora nos olhos, ansiando uma resposta dele
Chico – E porque é que não ficas?
Filipa – Até parece que eu não quero! Mas ias-te fartar de mim como da última vez e já não ia haver um para sempre… - diz com uma ponta de tristeza na voz
Chico – Não, não me vou fartar! Da última vez eu fui estúpido para ti e já te pedi desculpa. O passado  é uma história e o presente, é como o próprio nome indica, um presente. Nós temos é que o preservar e desejar um futuro a dois – diz e beija-a com paixão  

O beijo perlongou-se e intensificou-se, Filipa sentia a respiração ofegante de Chico nos seus lábios e Chico sentia o batimento cardíaco de Filipa descompassado, tal como o seu. Eles estavam prontos para se entregarem um ao outro e serem um só. Filipa tremi e não sabendo bem como, arranjou coragem e passou as suas mãos por baixo da camisola dele puxando-a para cima. Pararam o beijo e olharam-se nos olhos, ambos sorriram, viram que era algo desejado pelos dois, apesar do medo que sentiam (eram os dois virgens). Chico levantou os braços e Filipa retirou-lhe a camisola e atirou-a para o chão. Filipa estremeceu quando o viu seminu, ela já sabia que ele era perfeito, mas nunca o tinha visto assim e tão de perto… Um arrepio percorreu a espinha dela, quando sentiu as mãos quentes de Chico no fundo das suas costas empurrando a camisola para cima, ela tinha a perfeita noção que era naquela noite. Mas será que estaria preparada? Isso não lhe saia da cabeça, ela estava cada vez mais assustada, mas não queria dizer nada. Ela não era a única assustada, Chico estava aterrorizado, também era a primeira vez dele e ele não sabia bem o que fazer, e se ela não gostasse? Filipa pensou que o melhor seria relaxar o que tivesse de acontecer aconteceria e o seu coração deixou de estar tão acelerado. Chico percebeu que Fi já não estava tão nervosa e também se acalmou um bocadinho. O beijo parara e Chico estava agora a olhar para Filipa com um olhar de quem pedia permissão para tirar a camisola, ela percebeu e levantou os braços e ele retirou-lhe a camisola. Chico ficou tal como Filipa, sem jeito. Ele sabia que ela era perfeita de todas as maneiras, mas nunca pensara que o corpo dela fosse tão perfeito. Filipa percebeu que Chico estava a olhar para o corpo dela e esta baixou a cabeça, mas Chico levantou-lhe o rosto e disse:

Chico – Que foi, Fi? – perguntou preocupado, tinha medo de ter feito algo de errado
Fi – Tenho vergonha – admitiu timidamente
Chico – Vergonha? De quê?
Fi – Que me vejas assim, sabes que não gosto do meu corpo…
Chico – És mesmo parvinha, és perfeita de todas as maneiras e o teu corpo… O teu corpo é magnifico!
Fi – A sério?
Chico – Achas que te ia mentir?
Fi – Não, eu sei que não me ias ment… - Chico calou-a com um beijo, ele não queria que aquele momento fosse arruinado com palavras.

Os corpos deles, encontravam-se a escassos centímetros e as mãos de Chico percorriam o corpo de Fi, eles estavam prestes a entregar-se um ao outro, até que são interrompidos pelo toque do telemóvel de Filipa que agora tocava tão alto que lhes feria os ouvidos. Será que o iriam deixar tocar e sucumbir ao desejo ou Filipa iria atender o telemóvel e deixar alí Chico?