quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Capítulo 12 – Novos rumos

E agora? Eu tenho todas as provas à minha frente, mas não sei o que fazer… será que o Francisco está a falar a sério? Será que a Mica e o Bernardo já sabiam disto tudo? A resposta à última pergunta parecia-me óbvia… claro que eles sabiam, por isso, é que o Bernardo quis o meu computador e, por isso, é que a Mica quis tanto ver aquelas fotografias! Mas se eles já sabiam aquilo, porque é que não me disseram logo? Pois… eu não teria acreditado, só se tivesse as provas mesmo à minha frente… talvez fosse essa a razão de tudo aquilo. Mas… ainda há algo que não consigo perceber! Como é que aquela fotografia foi tirada se o Francisco estava a dormir? Parece que tenho uma questão pendente e não passaria de hoje!

- Se tu estavas a dormir, quem é que tirou a tal fotografia? – Perguntei ainda a pensar no que tinha acabado de ver

- Fui eu que tirei, mas não era suposto ele estar a dormir, por isso, fui-me embora e só tirei aquela… - disse uma voz mesmo atrás de mim.

Virei-me unicamente para confirmar se as minhas suspeitas se confirmavam e sim, infelizmente estavam confirmadíssimas, era o Daniel, o meu ex. namorado que fazia o favor de me seguir e implorar-me para que volte para ele.

- Daniel? – Questionei incrédula – Tu fizeste o quê? – Perguntei enquanto sentava e perguntava a mim mesma como é que alguém seria capaz de fazer aquilo

- Eu sei que foi errado o que fiz, desculpa-me! – Disse agarrando-me mão

- Nem me toques! – Disse desviando rudemente a mão – Tu, vais explicar-me essa história toda! Aqui e agora! – Ordenei

- Desculpa interromper, mas vai tocar daqui a dez minutos, não seria melhor adiar esta conversa para mais logo? – Perguntou o Bernardo

- Desculpa? Adiar? Tu sabes o quanto eu estou a sofrer por causa desta brincadeirinha? SABES? – Gritei – Pelos vistos não! Quem quiser, pode ir – Disse estendendo a mão na direcção da porta – Tu – Disse apontando para o Daniel – É melhor sentares-te, vais ter muito que contar…

Ninguém se levantou, há excepção do Francisco que se foi sentar ao meu lado para poder estar de frente para o Daniel ou só para estar ao meu lado. Nunca pensei que ele o fizesse, mas soube-me bem, mesmo não estando agarrada a ele, conseguia sentir-me segura – penso que isso seja a força do amor.

- Não te peço que compreendas as razões que me levaram a fazer isto, muito menos que me perdoes… - Principiou o Daniel

- Mas eu peço-te que te despaches, isto já foi longe demais e eu não tenho muito mais tempo para perder contigo – respondi secamente

- Pois bem, não me irei alongar muito – lançou-me um olhar e continuou -. Naquela noite em que nos encontramos no bar em Évora, quando todos vocês foram embora, a Rute veio ter comigo e prometeu-me que eu e tu ficaríamos juntos, mas que para isso eu tinha que a ajudar. O plano dela era seduzir o Francisco, mas ela não conseguia fazê-lo, ele estava completamente apaixonado por ti para se deixar seduzir por outra.

Naquele instante dei por mim a olhar intensamente para o Francisco, como se eu sempre soubesse que ele nunca me tinha traído e que ele era louco por mim, tal como, eu era louca por ele.
Não consegui travar duas lágrimas que lentamente percorreram um trilho dos meus olhos ao canto da boca, até serem travadas pelas mãos grandes e quentes do Francisco, que sem pedir licença, tocaram no meu rosto limpando aquelas lágrimas. Para mim não eram só lágrimas, eram a mais bela representação de todo o sofrimento que vivia no meu coração e que quase tinha desaparecido só com um simples gesto, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aqueles segundos pareciam uma eternidade e eu tinha que ter a coragem de os terminar, pois, ainda havia muito para ouvir e não me parecia que o Francisco fosse terminar aquele momento… limitei-me simplesmente a desfiar o rosto e olhar para o Daniel, como se estivesse a pedir que continuasse.

- Então, ela convidou-me para passar a passagem de ano com ela e disse que seria nesse dia que as nossas vidas iriam mudar. O plano dela era embebedar ao máximo o Francisco para se enrolar com ele, sem que ele a rejeitasse.

- E tu estavas encarregue de tirar as fotografias para depois me mostrarem, eu acabar com o Francisco, tu consolares-me como tentaste fazer naquela manhã – como é que eu fui tão estúpida ao ponto de acreditar que ele tivesse mesmo mudado? – E a Rute ficava com o Francisco… - disse tentando acreditar naquela história bizarra e típica de uma serie televisiva americana

- Exacto! Era o crime perfeito, mas como se costuma dizer, não há crimes perfeitos e este foi prova disso. O Francisco estava a dificultar imenso a situação… A Rute estava há horas na casa de banho do teu quarto e o Francisco continuava imóvel no sofá agarrado a ti, até que ele se levantou, possivelmente para ir à casa de banho e foi aí que o plano começou a entrar em acção. Ele entrou no quarto e a Rute saiu da casa de banho, ainda vestida, e foi em direcção ao Francisco que estava perdido de bêbedo, mas nem assim a deixou de rejeitar. Ela como já previa aquela situação sugeriu que fizessem um brinde ao amor e como não sabia o que se passava, o Francisco aceitou e quanto mais bêbedo ele ficava, mais ela o empurrava para a cama, até o conseguir deitar. Assim que ele se deitou, adormeceu logo e enquanto isso, ela trocou de roupa, meteu-se em cima dele, meteu as mãos dele nas pernas dela, para que parecesse mais real e começou a despi-lo. Como eu achei que aquilo não iria resultar, decidi ir embora e aparecer só quando a bomba rebentasse na manhã seguinte.

- Então e o soutien que eu encontrei no chão do meu quarto? – Perguntei tentando a muito custo digerir toda aquela informação

- Era dela, tal como eu disse, ela trocou lá de roupa e esqueceu-se dela lá. Bem Filipa, já disse tudo o que sabia, agora tenho que ir. Espero que um dia me perdoes e percebas que só fiz isto para o teu bem… - Assim que proferiu tais palavras, levantou-se e foi-se embora, como se o seu trabalho ou missão tivesse terminado, mas parecia que não tinha tido sucesso… Mas, e agora? O que é que eu faço?

- Fi, o teu telemóvel está a tocar… - Alertou-me a Mica

- Ah… -disse voltando à realidade – Obrigada, M. – disse enquanto tentava alcançar o meu telemóvel – Sim? – Perguntei ao atender o telemóvel
- Estava a ver que não! Onde é que estão? – Perguntou a Bea – Dá… Cá isso! – Pediu a Matilde, talvez enquanto tentava tirar o telemóvel à Beatriz

- Ainda estamos no Mc, aconteceram uns problemas depois conto-vos tudo! – Prometi

- Ok! Vou passar à Matie, abreijos – Despediu-se e passou o telemóvel à Matie – Estás doida? Porque é que estas a faltar? Conta-me tudo! – Bombardeou-me preocupada

- Eu logo conto-te tudo, prometo! – Prometi novamente

- Não sei se te vai ajudar ou não, mas as bolsas de estudo para Londres abriram e este ano vão ser cinco! – Disse toda entusiasmada

- Cinco? Nós as quatro temos que as ganhar! – Disse compartilhando o mesmo entusiasmo

- Então posso escrever-te a ti e à Mica para os exames de admissão às bolsas? – Perguntou mesmo sabendo qual seria a nossa resposta

- Claro que podes!

- Vou já inscrever-vos, beijinhos!

- Beijinhos! – Assim que me despedi desligamos a chamada

- Então e agora, Filipa? – Perguntou-me o Francisco a medo

- Agora sei toda a verdade, mas preciso de tempo… Desculpem – disse levantando-me e agarrando nas minhas coisas para sair, mas novamente, fui impedida pela mão forte e quente do Francisco que agarrava com toda a força o meu lívido e frágil braço

- Não fujas de mim… Outra vez não, peço-te! – Disse-me com os olhos preenchidos por uma mágoa imensa, quase palpável

- Não estou a fugir de ti, estou a fugir de mim… - Disse livrando-me do braço dele e fugindo daquele lugar em direcção a casa, ao meu porto seguro, onde não tinha que encarar ninguém a não ser aquelas paredes que tão bem conheciam a minha mágoa e o meu sofrimento. Um lugar onde me podia afundar sem ninguém ver, criticar ou julgar, um lugar onde podia ser eu, onde podia deixar a máscara que usara nos últimos dias à porta de casa, para que me pudesse entregar ao meu sofrimento. Mas hoje, seria só o lugar onde podia desabafar com a minha melhor amiga que fez questão de vir comigo. Não me podia afundar em sofrimento, mas podia deixar a máscara e simplesmente desabafar.

Quando chegamos ao meu prédio eu só queria deitar-me no sofá, esconder a cabeça debaixo da manta e fingir que tudo não passava de um pesadelo, mas nem isso me foi permitido, pois à porta da minha casa já se encontravam a Bea e a Matie de braços abertos para me aconchegarem no reconfortante e desejado abraço. Após aquela demonstração de afecto, entrámos em casa e a Matie começou logo a bombardear-me com questões.

- O que é que aconteceu? Estou mesmo preocupada! Conta-me tudo! Nem penses em esconder-me alguma coisa, Filipa Marie! – Disse-me com o seu indicador fino e comprido espetado no ar

- O que aconteceu foi que… - Contei-lhes a história toda, como tudo se tinha passado no decorrer daquelas duas horas que mais pareciam dias

- Oh primoca, anda cá… - Disse a Matilde esticando os braços para me abraçar e como é óbvio que acedi de óptimo grado

- Então e agora? Já se sabe que ele não te traiu… - Disse a Beatriz

- E ele até provou tudo… - Acrescentou a Mica

- Não sei… vou ter que pensar, meninas – fiz uma pausa – Então e as bolsas de estudo? – Perguntei, fingindo-me interessada

- Estava a ver que não perguntavas! – Disse toda entusiasmada

Passamos o resto de tarde juntas a falarmos sobre as bolsas, moda – eu e Matie somos apaixonadas por alta-costura –, séries televisivas, de tudo um pouco, menos de rapazes. Era notório o esforço que elas faziam para não falarmos de rapazes, eram mesmo umas grandes amigas, mas embora eu não expressasse em palavras, o meu pensamento estava todo centrado no Francisco e no que é que eu iria fazer em relação a mim e a ele… Será que eu irei ficar bem com ele ou irei ceder à pressão de ter alguém a tentar separar-nos? Terei de pensar muito bem nisto…

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Capítulo 11 - A Verdade

Filipa:

Naquele mesmo dia, em que o meu coração havia sido arrasado, regressamos todos a Lisboa. Eu não conseguia permanecer muito mais tempo no local onde tudo em que eu acreditava, havia desaparecido, e todos acharam que seria melhor voltarmos para casa.
Mal tinha dormido este fim-de-semana e nem queria pensar como seria regressar à escola onde todos os dias teria que olhar para a cara do Francisco. A minha única sorte é o facto de eu estar a estudar artes e ele desporto, por isso, sempre haveria uma pequena possibilidade de não o ver.

O meu relógio marcava as 7 horas, estava na altura de me levantar, mas não queria nada. Não queria sair daquele meu canto onde me podia esconder do mundo e tentar esquecer que algum dia havia amado alguém. Mas nunca fui de fugir aos meus problemas e às minhas responsabilidades e a única coisa que me restava era levantar-me e cumprir a minha promessa, tornar-me numa outra Filipa, uma Filipa que não sofre por amores, faz sofre. Enquanto me acabava de maquilhar e encher-me de coragem para enfrentar aquele dia pensei: «mas eu estou a tentar enganar quem? Eu estou um caco, mal me mexo, quanto mais fazer sofrer alguém… hoje, só me resta tentar evita-lo ao máximo e seguir em frente».

Acabei de me arranjar, vesti-me, agarrei na minha mala, num iogurte líquido e umas bolachas e saí apressadamente em direcção à paragem para apanhar um autocarro até Sete Rios, para não ter que ir a pé.
Assim que cheguei vi um sorriso grandioso mesmo à minha frente, como de costume a minha Mica já estava à minha espera na paragem.

- Fiii! – saudou-me a Mica sorrindo-me e logo de seguida abraçando-me com a maior força do mundo

- Oh meu amor, que bem que me sabe este abraço – disse com as primeiras lágrimas nos olhos

- Vá, não chores, não me deixes cheia de rímel outra vez – disse entre aqueles risinhos de menina pequena que lhe eram tão característicos

- Mas quem é que falou em chorar, pá? – Perguntou a Bea tocando-me no ombro com a sua descontracção que tão bem a caracterizava

- Sim! Não te vais pôr aqui a chorar que eu não deixo – ordenou a Matilde enquanto empurrava a Mica e a Bea para me poder abraçar

- Hei! É preciso empurrar? – Reclamou a Bea

- Credo! – Reclamou logo de seguida a Mica

- Estejam caladinhas, primeiro a minha primoca – declarou a Matilde gracejando

- Ai meninas o que seria de mim sem vocês? – Perguntei num suspiro

- Realmente não serias nada, não… - respondeu a Bea com aquele seu jeito de gozona

- Obrigadinha oh ciganita! É melhor irmos para a paragem antes que passe o trintas! - respondi

- Nem penses! Eu não tenho passe e quando vou ao pica sou sempre apanhada! – protestou a Bea

- É só uma paragem, anda lá – incentivou a Matilde, puxando-lhe o braço

- Não! E faz-vos bem andar, para não ficarem gordas – refutou a Beatriz com sarcasmo

- Olha! Grande lata… - contestou a Matilde

Todas nos rimos, mas acabamos por ir a pé até à escola. Tudo estava a correr bem, eu estava distraída e nem tinha pensado no Francisco. Creio que elas também estavam a fazer um esforço para não tocarem no nome dele, pelo menos à minha frente e tudo o que acontecera no Alentejo, tinha ficado no Alentejo. Mas o meu belo dia começava a ficar estragado à medida que nos aproximávamos da escola. Estava uma fila enorme para entrar, dado que, o Sr. João (porteiro da escola) estava a obrigar todos os alunos a passarem os cartões. A fila cada vez aumentava mais e quando nos atrevíamos a olhar para o final desta só nos assustávamos cada vez mais.
Estava eu a tentar ver se a fila andava ou não quando uma voz extremamente familiar me interrompeu.

- Bom dia flores do dia! – Saudou o Bernardo com um sorriso de gozo – Que fila é esta? Estão a dar comida é?

- É a fila onde tu feito abusado passaste à frente de mais de metade da escola! – disse virando para ele, para que o pudesse olhar nos olhos, mas talvez não o devesse ter feito, pois, com ele, encontrava-se o Francisco e sim, a minha manhã estava a correr mesmo mal…

- Adoro a combinação do teu mau humor conjugado com essas roupas – respondeu por entre largas e ruidosas gargalhadas

- Obrigada por achares que estou linda – respondi-lhe com sarcasmos

- Estás sempre… – sussurrou o Francisco. Mas eu fiz de tudo para achar que tinha sido tudo uma partida da minha enorme imaginação

O dia estava a ser completamente esgotante, tinha passado a manhã toda a tentar esconder-me do Francisco e a aula de história de arte tinha dado cabo da pouca concentração que eu tinha. Parecia que os segundos não passavam, parecia que o tempo tinha simplesmente congelado para me manter prisioneira daquele sofrimento. Enquanto eu me desvanecia em lamúrias, o karma tentou fazer as pazes comigo e o toque da campainha soou, declarando a tão desejada hora de almoço.

- Onde é que vamos almoçar hoje? – Perguntou a Mica com um largo sorriso no rosto

- Não sei… - respondi enquanto procurava o meu telemóvel que tinha acabado de receber uma mensagem – Espera, deixa-me só ler a mensagem – disse mexendo no telemóvel

De: Bernardo

Almoçamos juntos, como antes?

- O Bernas acabou de perguntar se almoçamos juntos, como antes – respondi à pergunta que estava expressa no seu rosto

- Por mim é igual, mas será que consegues lidar com os olhares do Francisco? Quer dizer, andaste todo o dia escondida… - Perguntou-me num tom de voz calmo e sereno

- Pois, não sei… vou ligar ao Bernardo – enquanto tentava alcançar o meu telemóvel que já estava dentro da mala, ouvi alguém gritar o meu nome

- Filipa! – Gritou o Bernardo

Virei-me para confirmar se era mesmo a voz dele ou se seria mais uma das partidas da minha mente, mas desta vez, também não era nenhuma partida da minha mente, mas sim do destino, dado que ao lado do Bernardo – como sempre – se encontrava o Francisco.

- Sim? – Respondi com o meu olhar centrado no Francisco

- Então, almoçamos juntos? – Perguntou com um larguíssimo sorriso a romper o rosto

- Pois… Não sei… - disse enquanto pensava numa boa desculpa

- Puto, eu disse-te, mas tu és teimoso! Olha, vou andando, depois vai lá ter – disse o Francisco com uma frieza extrema sem nunca olhar para mim

- Espera aí! – mas o Francisco continuou a andar – Filipa, vai armar-te em menina mimada ou vens connosco? É que se queres mostrar que ele não te afecta, aviso-te já que fugires dele não é a melhor maneira, mas tu é que sabes!

Eu sabia perfeitamente o que é que ele estava a tentar fazer. Ele queria-me juntar com o Francisco e esta foi a única maneira que arranjou.

- Ok, eu vou. – Respondi friamente

- Eu sabia – respondeu-me com um enorme sorriso – Francisco! – Gritou – Espera por nós!

Este acabou por abrandar o passo até que nós o alcançamos. Ambos permanecemos em silêncio até entrarmos na McDonald’s, onde o silêncio constrangedor acabou por ser quebrado pelo Bernardo.

 - Chico, na aula disseste que querias mostrar-me uma coisa, era o quê? – Perguntou o Bernardo curioso como sempre

- Depois mostro-te, tenho na pen – respondeu-lhe

- Mostra agora! Fiquei mesmo curioso – disse com um falso entusiasmo

O Francisco ergueu a sobrancelha e respondeu – Tanta curiosidade para nada! E como é que eu te mostro oh esperto? – Disse enquanto soltava uma leve e falsa gargalhada

 - Sabes muito bem que a Filipa tem o portátil dela… - Respondeu olhando para a minha mala.

Sim, agora eu percebia porque é que ele estava a insistir com o Francisco, para que este lhe mostrasse algo.
O Francisco baixou o rosto e encolheu os ombros, ao qual eu percebi que aquela situação não era só constrangedora para mim e decidi intervir.

- Adoro quando falas de mim como se eu não estivesse aqui, Bernardo! – Antes que este pudesse responder tirei o meu portátil da mala e continuei – Toma lá, ele tem bateria, podem demorar o tempo que quiserem – Disse esticando o portátil na direcção do Bernardo, mas este limitou-se a aceita-lo e nem agradeceu.

- Obrigado, F. – Disse o Francisco baixando a cabeça para possivelmente esconder o rosto

Enquanto eles esperavam que o meu portátil ligasse eu e a Mica estávamos a combinar uma ida às compras este fim-de-semana, até eu ser interrompida por um puxão no braço.

- Ouviste o que te disse? – Perguntou o Bernardo irritado

- Não, não vês que estou a falar com a Mica? Como é que eu te podia ter ouvido? – Respondi num tom arrogante, uma vez quem detesto ser interrompida a meio de uma conversa

- Ai, desculpe! – Pediu ironicamente

- Vá, diz lá o que querias…

- O Francisco tem aqui na pen as nossas fotografias, queres ver? – Perguntou sorrindo

Mas antes que eu tivesse tempo para responder, a Mica respondeu por mim.

- Sim, claro que queremos!

Eu fitei-a com um olhar de reprovação, nunca pensei que a Mica fosse capaz de me fazer aquilo, ela sabia como eu estava a sofrer e ainda queria que eu visse aquilo? Isto era tudo muito estranho… Havia aqui mais qualquer coisa que eu ainda não estava a perceber e a reacção da Mica ao meu olhar reprovador, ainda me deu mais certezas! Como é que alguém após um olhar daqueles, dá a mão a outra pessoa e pisca-lhe o olho, como quem diz: «está tudo bem»? Isto está muito mal explicado, mas dentro de muito pouco tempo eu ia saber o que se estava a passar.

- Oh, olha para elas tão linduxas – disse o Bernardo de forma bastante irónica e virando o computador na nossa direcção, uma vez que, os rapazes estavam sentados à nossa frente

- Olha nós! – Exclamou a Mica com um guincho

- Está mesmo gira! Mas não me lembro de terem tirado… - respondi confusa

- Foi no nosso segundo dia no Alentejo…

Eu sabia bem quando é que tinha sido, eu lembro-me perfeitamente de cada dia passado na quinta dos meus avós. Como é que me poderia esquecer dos dias mais felizes da minha vida e do dia em que o meu coração foi partido sem dó nem piedade por quem eu mais amo – espero poder conjugar este verbo no passado o mais depressa possível – no mundo?

- Fui eu que tirei… - acabou por acrescentar o Francisco

Eu não consegui responder. Confesso que a voz dele ainda me causa uma certa repulsa – pelo que me fez passar – juntamente com uma grande tristeza – por não o conseguir odiar, por só querer estar junto a ele, agarra-lo e pedir-lhe para que nunca me deixe, porque eu nunca o vou deixar – mas agora é tempo de seguir enfrente e deixar de ouvir o que o coração me pede.

- Vá, muda lá isso! – Protestou a Mica ao ver o meu estado


Ao vermos esta fotografia as nossas gargalhadas foram impossíveis de esconder. Esta era uma das memórias mais engraçadas que tinha guardado no meu coração, para não mais esquecer. Tudo começou quando a Mica se lembrou de me gozar por eu não conseguir dizer a palavra Chantilly. eu para me «defender», agarrei numa almofada e atirei-lha, ao qual ela respondeu na mesma moeda. Almofada daqui, almofada dali e acabamos por acertar no Francisco que automaticamente agarrou noutra almofada e alinhou na brincadeira. Segundos depois, estávamos todos a atirar com almofadas, até que começa a «chover» penas e a Beatriz decidiu agarrar na minha máquina fotográfica e registar o momento.

- Próxima! – Exclamei enquanto limpava algumas lágrimas provocadas pelas gargalhadas (e não só)

Ao ver aquela imagem, aquela demonstração de carinhos e afectos evidentes, entrei em pânico. Uma parte de mim, sabia que iria aparecer uma imagem daquele género, mas outra parte, a que eu fazia questão de ouvir sempre, dizia-me que ele me queria esquecer, tal como eu o queria esquecer, mesmo que, para isso ele tivesse que quebrar a promessa que me havia feito no estábulo.
Aquela fotografia era a prova de que aquilo tinha sido real, aquele amor não tinha sido nenhuma fantasia ou mero conto de fadas e agora percebia onde é que o Bernardo e a Mica queriam chegar, mas eu não podia deixar que eles levassem a ideia deles avante! Eu não podia perdoar o Francisco de ânimo leve, como se ele não me tivesse traído… Era o que eu mais queria, perdoa-lo e voltar ao que éramos, mas a parte mais racional de mim, não me deixava fazer isso. Eu já não confiava nele e para mim, a confiança é a base de tudo. Enquanto me debatia com isto, dei conta que duas lágrimas delineavam uma linha no meu rosto. Apressei-me a limpá-las e a pedir para que mudassem de fotografia.

- Mas tenho sempre que dizer para mudares? – Perguntei com desinteresse, como se fosse outra fotografia qualquer. Apenas disse aquilo com o intuito de magoar o Francisco e foi mesmo esse o efeito que consegui.


Todos olharam-me com tamanha surpresa, decerto que não esperavam que tivesse dito tal coisa, mas o Bernardo concedeu o meu desejo e passou à fotografia seguinte.
Preferia que não o tivesse feito, mas o desejo foi meu e sempre me havia dito: «cuidado com o que desejas» e sim, hoje aprendi isso da pior maneira que poderia existir à face da terra. Era sem dúvida uma fotografia que eu não estava à espera… A Rute, no meu quarto e em cima do meu namorado – digo, ex. namorado – mas porque é que estaria ali aquela fotografia? Era para me mostrarem mais tarde? Para me esfregarem na cara? Como é que ele tinha sido capaz, como?
- Que rica promessa! – disse com as primeiras lágrimas a rolarem pelo meu rosto

- Filipa, isto é a prova de que eu precisava, não vês isso? – Perguntou com uma tremenda frustração evidenciada em cada contorno do rosto

- A única coisa que vejo é a tua traição! Isto é para quê? Para mostrares que és grande? Que tens todas? Parabéns, missão cumprida! – Disse com um enorme sarcasmo a irromper as minhas palavras

- Isto é para te provar que tenho razão! – Disse com a maior convicção que alguém poderia conceber dentro de si próprio

- Ainda queres ter razão? Desculpa, mas não tenho mais tempo para assistir a esta palhaçada! – Disse agarrando na minha mala e preparando-me para me ir embora, deixando tudo para trás, mas fui impedida pela mão do Francisco que agarrava fortemente o meu lívido braço

- Sim, quero e tenho razão! Quando chegaste ao pé de mim, tinhas um soutien na mão e aqui nesta fotografia que está datada do dia 1 de Janeiro de 2011, ela tem um body! Ela quando saiu do quarto, estava enrolada ao lençol, logo, eu não vi como é que ela estava e mais, na fotografia vê-se que eu estou a dormir e que ela é que me está a despir! – Fez-se uma pausa – Agora, tu acreditas no que quiseres… eu só te prometi que não te tinha traído e que iria arranjar provas. Aqui estão elas… - Acabou por acrescentar e largou-me o braço

E agora? Agora, acredito em quem? Será que ele está a dizer a verdade ou só está a dizer isto para se livrar do rótulo de traidor? E como é que a máquina tinha disparado sozinha? Há aqui muita coisa que não bate certo, mas que dentro de muito pouco tempo, eu irei descobrir quem é que está a mentir e quem é que está a dizer a verdade! Só espero é que não seja tarde demais quando isso acontecer…

***

Minhas lindas, desculpem a demora, mas isto andou complicado… Eu que pensava que nas férias seria muito mais fácil, mas enganei-me… Desculpem mesmo! Para compensar, este capítulo está maior (e não é das imagens ahah), dado que, o normal é 4 páginas e este tem 7 (tentarei mantê-los assim).
Ah e desculpem o fail da última fotografia! Eu e uma amiga minha – desde já, agradeço imenso! Carolina Lobo, you’re the best! – Passámos um dia inteiro à procura da fotografia ideal, até que eu me lembrei de juntar aquela fotografia de Chance Crawford (Nate) e de Katie Cassidy (Juliet), uma vez que, as anteriores fotografias também diziam respeito ao elenco da brilhante série Gossip Girl, mas como viram tive o grande azar de o vídeo ter no canto inferior direito a sigla CW. Mais uma vez, peço desculpa por isso.
Espero que tenham gostado e comentem muito!

Beijinhos *