Capítulo 1 – Cinema (Parte I)

É quinta-feira, dia 23 de Dezembro e está um frio de rachar e eu de calções para variar. Está tanto frio que não sinto os dedos, por outra, não sinto nada. Mas ao menos está sol e ao sol está-se muito bem. Hoje, não sei bem porquê, acordei com a sensação de que este dia vai ser diferente, só não sei se pela negativa ou pela positiva… Bem, pela negativa acho que não será, já que, vou a caminho do Colombo, combinei um cinemazinho, seguido de umas comprinhas e se por acaso nos demorarmos (como disseram ingenuamente os rapazes) jantamos por lá. Vai o grupo todo, a doida da Bea, a histérica da Matie (se ela sabe que lhe chamei isto, mata-me!), o tonto do Chico (o Chico é o meu ex. namorado e sem dúvida o meu grande amor e não me digam que ainda sou muito nova para saber o que é o amor, detesto que me digam isso), o meu melhor amigo Bernas e a minha melhor amiga Mica. Como sempre, já estavam todos no Colombo e eu ainda estava na carruagem do metro, atraso-me sempre, é impressionante!

Colombo:

Bea – A Fi é sempre a mesma coisa, está sempre atrasada!

Chico – Se calhar caiu no meio da rua, ela passa a vida a cair – diz gozando

Mica – És mesmo parvo! Ela qualquer dia magoa-se a sério, coitadinha – diz dando uma chapada no braço do Chico

Chico – Au!

Matie – Cala-te lá um bocado! Começo a ficar preocupada, pode ter-lhe acontecido alguma coisa!

Bernas – Tem calma, não deve ter acontecido nada. Todos sabemos que ela se costuma atrasar – diz fazendo algumas caricias no rosto de Matie. (Bernas começava a nutrir sentimentos para lá da amizade por Matie)

Chico – Mas se fosse para ver o David Luiz não se atrasava! Lembram-se do jogo da semana passada? Ela chegou 10 minutos mais cedo!

Mica – Mas sabes que ela venera o David Luiz – diz rindo

Chico – Nem sei o que é que ela vê nele – diz com uma ponta de ciúmes

Bea – Os caracóis, ela é doida por caracóis! E os olhos? É melhor nem dizer que ela é maluca por olhos verdes – diz provocando Chico, mas este não lhe responde tentando controlar a sua raiva.

Matie – Opá, vou ligar à Fi! – diz procurando o telemóvel

Não atendi logo o telemóvel, nem sabia que este estava a tocar. Estava tão abstraída a pensar na minha vida, quer dizer, no Chico que nem me apercebi. Foi preciso uma senhora, já de certa idade, que se encontrava sentada à minha frente chamar-me de volta à Terra e dizer-me que o meu telemóvel estava a tocar há algum tempo. Aprecei-me a atender antes que a outra pessoa desligasse.

Fi – Sim?

Matie – Estás bem? Demoraste imenso tempo a atender! Onde estás?

Fi – Calma, amor! Sim… Quer dizer, mais ou menos… Mas estou mesmo a chegar!

Matie – Oh, o que é que se passa, bebé?

Assim que Matie profere tais palavras, sente o olhar apreensivo de Chico pousado nela, esperando ansiosamente um sinal por parte de Matie que mostrasse que Filipa se encontrava bem.

Fi – Depois conto-te, não te preocupes, a sério! Olha, estou mesmo mesmo a chegar, já falamos sim?

Matie – Claro! Vá até já

Fi – Beijinho (e desliga a chamada)

Passados dois minutos ouve-se uma voz a dizer: «próxima paragem – Colégio Militar», esta voz sempre me deu vontade de rir e de a imitar, mas hoje não havia tempo para isso!

Mal as portas do metro se abriram, comecei a correr até chegar ao interior do Colombo, só parei quando finalmente me encontrava nas escadas rolantes cansada e sem fôlego. Estava a meio das últimas escadas rolantes e já ouvia a voz do Bernas e o riso estridente da Matie e pensei «mas quando é que estes os dois ficam juntos?». Após tal pensamento começo a avistar cabeças, só poderiam ser as deles, mas esperem… Alguém está a olhar para mim, mas não percebo quem é! Pôssas, vejo mesmo mal… Mas à medida que me aproximo percebo que é o Chico e baixo de imediato o rosto, ficando corada. Até chegar perto deles pensava no porquê de ele me olhar daquela maneira, mas fui interrompida pelo abraço de Matie e o olhar ciumento de Mica.

Filipa

Matie – Finalmente! – diz abraçando-me

Fi – Desculpem, a sério! Para a próxima compenso-vos, prometo – digo erguendo a mão no ar como uma escuteira mas com cara de gozo

Bernas – Bem, se te atrasaste por causa de te estares a arranjar não faz mal nenhum, estás uma gata!

Fi – Vê lá se a gata não te arranha ó tigre.

Chico – Ui! Isto está a ficar quente, até queima – diz com ar irónico

Fi – Ah, não ligues, Chico. Isso sou eu que sou uma brasa, até queimo Tsss – diz rindo

Todos se riem, era mesmo típico de Filipa aquelas piadas, ela fazia qualquer um rir. Ela tinha mais piada porque o que dizia era espontâneo e ficava sempre corada quendo se rim do que ela dizia. Após algumas gargalhadas decidem escolher o filme e como as meninas estavam em maioria o filme escolhido foi «A tempo e horas». O filme já estava escolhido, só faltavam os bilhetes e as pipocas.

Bea – Eu vou comprar as pipocas e a Fi os bilhetes, sim?

Fi – Claro! Mas para isso, vá chuchus, dinheiro para cá – digo deitando a língua de fora. Todos me deram o dinheiro e eu e a Bea fomos em direcção às bilheteiras que já tinham uma fila enorme, como de costume.

Bea – Bem o Chico ainda não tirou os olhos de ti!

Fi – A sério?

Bea – Sim! Também com essa roupa…

Fi – Muito porcalhona?

Bea – Não, parva!

Fi – Uf, ainda bem! Amor, vais ter que me ajudar…

Bea – Vá diz lá!

Fi – No total somos seis, certo?

Bea – Sim…

Fi – Então quer dizer que só vamos comprar três baldes de pipocas, não é?

Bea – Sim… Mas ainda não disseste nada em que te possa ajudar!

Fi – Calma! Tu vais chegar ali e vais dizer: «vá, a Matie fica com o Bernas e dás-lhes um balde de pipocas, eu fico com a Mica. Mica toma as pipocas e tu Fi, ficas com Chico»

Bea – Boa ideia! Assim matamos dois coelhos de uma cajadada só…

Fi – Exacto!

Ao fim de algum tempo, elas regressam com as pipocas e os bilhetes, depressa a Filipa distribuiu os bilhetes e enquanto isso a Bea punha o plano delas em prática. Será que a Fi e a Matie irão ter sorte? Será que a sensação que Fi teve ao acordar seria boa e ela ficasse com o Chico?